Saúde/bem-estar
02/05/2022 às 04:00•2 min de leitura
Pensando um pouco com a mente do que pregava Aristóteles e o estoicismo, é dito que a propensão a sentir arrependimento pode até ser considerada um ato de virtude. E foi um pouco se apoiando nisso, tentando promover algum tipo de reparação moral com o Estado — talvez porque rezar um Pai-Nosso e cinco Ave-Marias não era o suficiente —, que em 1950 o governo dos Estados Unidos oficializou o que foi chamado Fundo de Consciência.
Essa verdadeira crônica histórica da culpa americana começou em 1811, quando o gabinete do governo recebeu um envelope anônimo contendo uma nota de US$ 5, acompanhado de um pedido de desculpas da pessoa por fraudar o governo.
Inspirado pelo gesto revolucionário, o Departamento do Tesouro do governo do presidente James Madison (1751-1836) criou uma espécie de poupança para aqueles que prejudicaram o Estado, ou qualquer pessoa, para fazer as pazes através de uma doação monetária.
(Fonte: Futility Closet/Reprodução)
A oficialização do fundo na década de 1950 tocou no coração de muitos americanos que roubaram tanto na rua quanto a própria instituição do governo, como sonegadores de impostos e fraudadores.
Uma matéria do The Baltimore Sun divulgou a carta endereçada ao Fundo de Consciência de um doador anônimo que dizia: “Há 8 anos eu peguei de uma estação ferroviária um item no valor de US$ 25, e isso está na minha consciência até hoje, portanto, estou enviando US$ 50 para limpar minha consciência”.
(Fonte: The New York Times/Reprodução)
Assim como nesse caso, se tornou comum que a quantia roubada ou desviada seja maior, como uma espécie de juros moral pela prática ilícita. Isso aconteceu até mesmo em caso de dinheiro encontrado na rua.
Assim como tudo o que um padre ouve na privacidade de seu confessionário, de banalidades a atos graves, as doações permanecem anônimas por parte dos doadores que, apesar de estarem se desculpando, ainda assim não querem ser responsabilizados pelos seus atos, tampouco expostos.
(Fonte: BBC/Reprodução)
Portanto, eles enviam o dinheiro através de terceiros, como advogados ou familiares, sempre em cheques bancários ou dinheiro em espécie. Mas Wilson Fadely, porta-voz do Internal Revenue Service, em entrevista ao Christian Science Monitor, disse que o fundo não busca mover uma ação legal contra os doadores, e que nunca houve um mandato para isso, ainda que o Departamento do Tesouro tenha o direito legal de processar os doadores. Por enquanto, o máximo que os arrependidos vão receber serão bilhetes com agradecimentos em nome do governo, caso incluam seus endereços nos envelopes. Mas quem arriscaria, não é?
E se você está se perguntando o que o Departamento do Tesouro faz com esse dinheiro, quando o doador não sinaliza qual seu desejo, a quantia é colocada em uma conta para gastos em despesas gerais.
(Fonte: On The Road Now/Reprodução)
Segundo o Business Insider, a maior quantia doada foi de US$ 155.502, em contraste com os nove centavos recebidos em 2017, figurando a mais baixa já doada ao Fundo de Consciência. Só em 2014, a poupança contabilizou US$ 1 milhão em doações, porém esse número começou a cair a partir de 2016, em que houve entrada de apenas US$ 23 mil.
O jornalista Chris Weller correlacionou essa queda brusca em doações com os níveis historicamente baixos de confiança no governo, ainda que o próprio Departamento do Tesouro tenha evitado vincular as atitudes do Estado com as doações.