Ciência
02/02/2023 às 04:00•2 min de leitura
Uma das figuras mais conhecidas e populares do catolicismo, o Santo Expedito pode na verdade nunca nem mesmo ter existido. Tido como o protetor das causas urgentes, especialistas hoje questionam a veracidade por trás da história do famoso santo católico.
Mas antes de mergulhar no mar de dúvidas acerca de sua existência, primeiro é preciso conhecer um pouco mais sobre a história do possível mártir que acumula legiões de fiéis e é patrono da polícia militar brasileira.
Segundo o catolicismo, antes de se tornar um santo, Expeditus teria sido um comandante romano que viveu entre os séculos III e IV. Foi daí que veio toda a iconografia da cultuada figura, com seu traje típico de legionário, com armadura, manto e túnica.
Ele teria comandado a 12ª legião, conhecida como Fulminata, composta de homens aquartelados em Melitene, uma cidade na Armênia que funcionava como uma espécie de base militar dos romanos na região. A missão de Expeditus e seu batalhão de quase 7 mil soldados era manter a segurança do império romano, impedindo ameaças em potencial como invasões de povos do oriente.
Santo Expedito é patrono da polícia militar brasileira
A história conta que no dia 19 de abril de 303 d.C., o comandante teria tido sua fé posta em cheque quando tentaram convertê-lo aos deuses pagãos. Cristão, Expeditus teria se negado a renegar a própria fé, sendo então martirizado e decapitado com uma espada a mando do imperador Diocleciano. Seus soldados também teriam todos sido assassinados.
Ainda que seja venerado por devotos em todo o mundo, Santo Expedito curiosamente não consta no Martirológio Romano, o catálogo dos santos da Igreja Católica.
Segundo o estudioso de cristianismo antigo e hagiólogo Thiago Maerki, Santo Expedito chegou a constar no Martirológio Jeronimiano, o mais antigo catálogo dos mártires cristãos. Segundo Maerki, pesquisador na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e associado da Hagiography Society nos EUA, a autoria do catálogo é atribuída a São Jerônimo — que, por sua vez, foi um teólogo que viveu entre os anos de 347 e 420 d.C.
O pesquisador explica que o pouco que se conhece a respeito da história de Expedito é muito controverso. "Quase nada se sabe sobre a vida e sobre o martírio dele, é muito difícil reconstruir qualquer detalhe da vida dele, justamente porque ele é lembrado em pouquíssimo documentos," explica o hagiólogo. Mesmo em meio a tantas dúvidas, Maerki pontua que "de qualquer forma, ele se tornou um santo extremamente popular."
Mesmo em meio a dúvidas sobre sua existência, Santo Expedito é muito popular entre os católicos
Uma das principais controvérsias envolvendo o santo tem a ver com seu nome. Maerki explica que pesquisas do padre jesuíta belga Hipólito Delehaye indicam que Expedito nunca existiu e que "na verdade que seu nome tenha sido uma pronúncia incorreta de Elpídio, no caso Santo Elpídio, que teria sido mártir também."
Ainda sobre seu nome, uma possibilidade curiosa é a de que sua existência não passe de uma grande confusão. Séculos atrás, era comum às igrejas enviarem pacotes umas às outras contendo relíquias relacionadas a santos. O pesquisador explica que o nome de Santo Expedito "seria derivado de 'expeditu', no latim, que significa expedido, enviado."
Ou seja, segundo esta hipótese, a má interpretação do rótulo dos pacotes como sendo o nome de um santo poderia ser a responsável pelo surgimento de uma das figuras mais famosas da Igreja Católica.