Artes/cultura
23/11/2023 às 12:00•2 min de leitura
Em 1858, Bradford era uma cidade que vivia um rápido crescimento. Com a Revolução Industrial, milhares de trabalhadores chegavam à cidade em busca de empregos, que na maioria das vezes consistiam em trabalhar em uma das 46 minas de carvão ativas na região. O Halloween daquele ano poderia ter sido normal, mas eventos fizeram com que o episódio ficasse marcado na memória inglesa e fosse responsável por mudanças nas leis relativas à farmácia e alimentos.
William Hardaker tinha uma barraca de venda de doces no Mercado Central da cidade e o Halloween era o dia ideal para faturar. Um dos doces mais populares na época era a bala de menta, que até rendeu ao comerciante o apelido de "Humbug Billy" (pois o nome do doce em inglês é humbug peppermint).
A tradicional bala de menta inglesa. (Fonte: Getty Images / Reprodução)
Só havia um problema: um dos principais ingredientes das balas era o açúcar, cujo preço era extremamente alto. A cana-de-açúcar não sobrevivia no clima inglês, era preciso importá-la da Índia e havia poucas refinarias no país, o que fazia do açúcar um luxo para poucos.
Naquele dia, Humbug Billy foi, como de costume, abastecer seu estoque com Joseph Neal, que preparava os doces. Ele notou a coloração estranha do açúcar e conseguiu um desconto por isso. No fim da noite, Billy acreditou que tinha feito um ótimo negócio, tendo vendido uma boa quantidade dos doces que conseguiu fazer gastando um valor menor do que o habitual.
Ilustração de John Leech sobre o episódio, publicada em 1958. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
Uma série de desencontros naquele Halloween fez com que um envenenamento em massa ocorresse a partir da venda desses doces. O doceiro, Joseph Neal, utilizava uma prática — que não era incomum na época — de misturar ingredientes para economizar no preço. O açúcar era trocado, em partes, por pó de gesso, que não apresentava nenhuma toxicidade conhecida.
Na ocasião, Neal mandou um ajudante ir comprar o pó de gesso em uma farmácia, porém, o farmacêutico, Charles Hodgson, estava doente e pediu para que seu jovem assistente William Goddard fizesse a venda. O produto deveria estar em barril perto do balcão, porém, o barril estava ao lado de outro que continha arsênico e, sem experiência, nenhum dos jovens notou a diferença.
Trióxido de arsênico confundido com pó de gesso que deveria se passar por açúcar. (Fonte: Wikimedia Commons / Reprodução)
Os problemas começaram a aparecer no dia seguinte, quando médicos começaram a atender crianças que estavam doentes. Nos primeiros casos, os sintomas foram atribuídos à cólera, doença comum na época.
O tamanho do problema só foi revelado graças ao médico John Henry Bell, que atendeu uma família inteira que passava mal. Como todos tinham comido os doces, ele suspeitou de contaminação e levou amostras para uma análise química, que revelou a contaminação. Algumas balas continham uma dose quatro vezes maior do que o necessário para ser letal.
A partir daí o caso foi levado para a polícia, que agiu rapidamente batendo sinos na rua e avisando a população para que não consumisse os doces. Avisos foram impressos e espalhados em lugares públicos.
Infelizmente, o episódio levou 20 crianças à morte e mais de 200 pessoas ficaram doentes. Os números podem ser bem maiores, já que os doces podem ter sido levados para outras localidades e algumas das mortes atribuídas a outras causas.
O episódio do envenenamento de Bradford levou a alterações na então "Lei de Venda de Alimentos e Drogas", que impediu farmácias de venderem produtos letais de forma indiscriminada, além de impedir e aumentar a fiscalização na alteração de ingredientes de alimentos.