Ciência
18/04/2024 às 16:00•3 min de leituraAtualizado em 24/04/2024 às 12:11
No Brasil, o termo gibi é usado como um sinônimo de revista de quadrinhos. Mas o fato é que esse não é o significado original do verbete: nos anos 1930, a palavra tinha significado racista e queria dizer “menino negro”, "moleque" ou “tipo feio e grotesco”.
O fato é que esse termo passou a significar revista por conta de uma publicação lançada em 1939 pela editora O Globo em 12 de abril de 1939.
A Gibi foi criada em 1939 pela editora O Globo com o intuito de rivalizar com outras revistas da época. Entre elas, estava O Guri e a Mirim, da editora criada por Adolfo Aizen, nome importante no ramo dos quadrinhos e considerado pioneiro no Brasil nesta área.
Só que o sucesso da Gibi foi tanto que, em pouco tempo, ela passou a designar o próprio formato. A iniciativa da empresa de Roberto Marinho começou a publicar histórias de vários personagens famosos, como Li’l Abner (Ferdinando), de All Capp, Charlie Chan, de Alfred Andriola, Brucutu, de V.T. Hamlin e Os Filhos do Capitão Grant, além da obra de Julio Verne, desenhada pelo brasileiro Miguel Hochman.
Vale que dizer que a criação da Gibi tem certo cheiro de trapaça. Adolfo Aizen era um jornalista que prestava serviços para Roberto Marinho e foi enviado para os Estados Unidos para conhecer o mercado dos suplementos. Ao voltar, sugeriu a ideia de implementar esses cadernos no jornal O Globo a Roberto Marinho, mas o empresário achou que era um investimento de alto risco.
Aizen então busca outros parceiros e lança várias iniciativas no ramo, como o Suplemento Juvenil. Só que, ao ver o sucesso do antigo colaborador, Marinho muda de ideia e resolve lançar uma linha de revistas para concorrer com as publicações de Aizen. Entre elas, estava a Gibi.
Para a jornalista Sonia M. Bibe Luyten, autora da obra Histórias em Quadrinhos: Leitura Crítica, a trajetória da Gibi “é uma história longa que precisa ser contextualizada para se poder entender o que se passou na década de 1930 no mercado editorial e jornalístico”, declarou à BBC.
A revista repetia uma tendência que já existia há 40 anos nos Estados Unidos. Com ela, a editora O Globo passou a se tornar a principal do ramo de quadrinhos no país. “A revista tinha como foco as histórias em quadrinhos. Mas a publicação dedicava algumas páginas para contos, curiosidades, fatos históricos e pequenas reportagens”, contou à BBC o cartunista e biblioteconomista Richardson Santos de Freitas, que estudou a revista.
Contudo, ao publicar histórias estrangeiras, a Gibi proporcionou pouco espaço para os autores brasileiros. E isso se dava por razões econômicas. "Todo o conteúdo da revista era de personagens e autores norte-americanos, agenciados e distribuídos por sindicatos que detinham os direitos de licenciamento. Com isso, o custo da arte era mais baixo e os editores brasileiros teriam apenas o trabalho de fazer a tradução dos textos e a montagem das publicações", aponta Freitas.
Com o sucesso da publicação, o Grupo Globo fundou em 1952 a Rio Gráfica e Editora (RGE), para dar conta do aumento das tiragens das revistas especializadas em quadrinhos. Ocorre que, em pouco tempo, o mercado foi se modificando, e os leitores passaram a preferir revistas de personagens específicos, o que não era o perfil da Gibi.
Em pouco tempo, as revistas criadas a partir da Gibi (como a Novo Gibi e a Gibi Mensal) foram sendo descontinuadas. Houve uma tentativa de relançamento do Gibi Semanal em 1974, mas que durou 40 números. Em 1975, foi o Gibi Especial, que teve 8 números.
Mesmo tendo sido encerrada, pode-se dizer que a Gibi teve um importante papel na consolidação do gosto brasileiro pelos quadrinhos. "O sucesso de vendas da revista transformou a palavra gibi em sinônimo de revista de histórias em quadrinhos no Brasil, fazendo o sentido original cair em desuso. A popularização do termo foi tão grande que inspirou as bibliotecas brasileiras a adotarem a denominação de gibiteca para seus acervos de HQ", conclui Sonia M. Bibe Luyten.
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