Ciência
05/03/2024 às 12:30•2 min de leituraAtualizado em 05/03/2024 às 12:30
As histórias de crianças selvagens, que crescem longe dos seres humanos, geram fascinação e curiosidade. Mas infelizmente, as histórias reais são muito diferentes dos livros e animações como Mogli, o menino-lobo. Afinal, toda criança que sobrevive entre animais foi negligenciada pelos adultos que deveriam cuidar dela, como nos mostra o exemplo da ucraniana Oxana Malaya.
A garota nasceu em novembro de 1983 e só tinha três anos quando seus pais a deixaram para fora de casa, pois não eram capazes de cuidar dela. A família era miserável e seus pais sofriam com o alcoolismo.
Era uma noite fria na pequena localidade rural de Nova Blahovishchenka, sul da Ucrânia. Sem o cuidado dos pais, a pequena Oxana seguiu sua cadela Naida até o canil da propriedade — e lá encontrou abrigo e proteção. Esse foi seu lar por cerca de cinco anos.
Nos cinco anos em que permaneceu com os cães, Oxana acabou desenvolvendo uma série de comportamentos típicos da espécie. Ela andava em quatro patas, latia e dormia no chão. Além disso, a menina se alimentava como os cães, pegando restos de comida e carne crua com sua boca. Em resumo, ela aprendeu a se comportar como os animais que lhe protegiam.
Quem olhasse de fora, sem saber da situação horrível em que Oxana vivia, poderia até pensar que se tratava de uma brincadeira de criança. Mas o caso chamou a atenção das autoridades a partir do dia em que a menina latiu para uma vizinha.
Oxana, com quase oito anos, foi levada para uma instituição onde recebeu cuidados intensivos para se restabelecer. Quando foi encontrada, a menina não falava uma palavra e latia como um cão bravo. Mas, apesar disso, ela conseguiu desenvolver as habilidades básicas de linguagem e comportamento em pouco tempo.
Na vida adulta, a garota aprendeu a controlar os "instintos caninos" — andando sobre as duas pernas e falando normalmente sem latir. Ainda assim, o tempo de negligência deixou sequelas irreversíveis em Oxana, que nunca se desenvolveu plenamente.
Aos 40 anos, Oxana Malaya ainda vive em uma instituição onde recebe cuidados. Ela passa a maior parte de seus dias cuidando de animais e diz que, às vezes, sente vontade de agir como um cachorro novamente. Isso acontece especialmente quando se sente sozinha.
Apesar disso, ela já disse em entrevistas que se ofende ao ser chamada de "garota-cachorro", pois gostaria de ser tratada como um ser humano normal.
Casos como esse instigam o antigo debate sobre natureza e criação no desenvolvimento dos seres humanos. Afinal, será que traços como personalidade, linguagem e comportamento são inatos — isto é, nascem conosco — ou são adquiridos na criação?
A teoria predominante atualmente defende que tanto a natureza, quanto a criação, tem papéis importantes no desenvolvimento — uma necessita da outra. E o caso de Oxana, que aprendeu a se comportar como um cão após crescer no meio deles, reforça essa ideia.
Segundo a professora de linguística Susan Curtiss, que participou de estudos sobre outro caso famoso de criança selvagem, pessoas criadas longe do convívio humano podem desenvolver a linguagem até os cinco ou dez anos. Depois disso, elas podem até aprender uma comunicação básica, mas dificilmente poderão reverter os danos de uma infância sem cuidados.