Ciência
23/06/2015 às 12:26•3 min de leitura
Não existem dúvidas de que o canibalismo é um assunto extremamente polêmico, e aqui no Mega Curioso mesmo já falamos a respeito de algumas curiosidades sinistras sobre ele em uma de nossas matérias. Por outro lado, justamente por essa prática ser considerado tabu pela maioria das culturas, o assunto também desperta o fascínio de muita gente.
Segundo Phil Edwards do portal Vox, há anos que historiadores, antropólogos e outros cientistas vêm estudando o canibalismo para tentar entender o motivo de ele ser praticado, quem pode ser afetado por ele, e quando ele ocorre. E a seguir você poderá descobrir mais curiosidades sinistras e surpreendentes relacionadas com essa prática:
De acordo com Phil, o termo “canibal” é derivado do nome “caníbales” — que foi como os conquistadores espanhóis chamaram os caribes, povos que habitavam as Pequenas Antilhas, quando chegaram por lá. Pois, segundo os europeus, os indígenas devoravam os corpos de seus inimigos ritualmente, e existe um pouco de controvérsia a respeito dessa história.
Alguns pesquisadores acreditam que os caribes não eram canibais, mas, como eles estavam em constante batalha contra colonizadores de vários países europeus, o rumor teria sido espalhado pelos espanhóis para criar medo entre os conquistadores “concorrentes”. Por outro lado, existem evidências de que os caribes guardavam partes dos corpos dos inimigos como troféus de guerra, portanto, o canibalismo não pode ser completamente descartado.
Segundo Phil, um dos registros históricos mais antigos sobre o canibalismo data do final do século 16, e descreve as práticas do povo Tupi — aqui do Brasil. De acordo com o documento, a prática de devorar os corpos de integrantes de tribos rivais era uma tradição que havia sido transmitida através de várias gerações, e muitas vezes os indígenas conviviam com os cativos durante vários meses antes de devorá-los.
E durante esse tempo juntos, tanto os prisioneiros como “anfitriões” cantavam músicas nas quais lançavam provocações e ameaças sobre o futuro banquete. O conteúdo das provocações geralmente se referia ao fato de que, assim como o cativo seria devorado pelos membros da tribo, em outra ocasião o contrário também poderia acontecer. Tipo: um dia da caça e outro do caçador, sabe?
A maioria de nós está programada para ser contra o canibalismo, e existem razões biológicas para isso. Conforme comentamos na nossa matéria anterior sobre o canibalismo, devorar outros seres humanos, especialmente o cérebro, pode provocar o kuru.
Essa doença é semelhante à doença da vaca louca e ocorre como resultado da transmissão dos príons, proteínas presentes no cérebro dos doentes capazes de interagir com o material genético dos infectados. O kuru não tem cura e os primeiros sintomas são fortes tremores pelo corpo — e acabam com a morte.
A doença foi identificada pela primeira vez na década de 50 entre os integrantes da tribo Fore, de Papua Nova Guiné. Um dos costumes dos integrantes dessa comunidade é o devorar os corpos de seus parentes mortos para limpar seus espíritos e, em decorrência disso, milhares contraíram o kuru e acabaram morrendo — e infectando mais membros da tribo.
No entanto, nos últimos 200 anos, surgiu em alguns indivíduos da comunidade uma mutação genética que previne que eles contraiam o kuru. Isso significa que parte do povo Fore está possibilitada geneticamente — através da seleção natural — a praticar o canibalismo. Entretanto, nos últimos anos ocorreram várias mudanças sociais e políticas no país, e a prática de devorar os corpos de familiares mortos está entrando em declínio.
É praticamente inevitável pensar sobre o canibalismo e não sentir um arrepio na espinha e se lembrar de histórias macabras que ouvimos por aí. Contudo, é importante ter em mente que existem povos que praticam o canibalismo como parte de sua cultura — como a tribo Fore, que descrevemos acima —, assim como em determinadas circunstâncias, pessoas foram forçadas a se render a ele para sobreviver.
Nesses casos, os antropólogos argumentam que o termo mais adequado seria “antropofagismo” — em vez de “canibalismo” —, já que não se trata de uma questão de hábito alimentar, mas sim de necessidade. E existem diversos casos famosos ao longo da História de indivíduos que, em momentos de desespero, tiveram que saciar a fome comendo outros humanos.
Local do acidente do voo 571 da Força Aérea Uruguaia
Um desses casos é o dos sobreviventes do voo 571 da Força Aérea Uruguaia que caiu nos Andes em 1972. A aeronave transportava 45 passageiros, e os que sobreviveram à queda e às condições extremas do local, tiveram que se alimentar da carne dos companheiros mortos para sobreviver aos mais de dois meses que se passaram até que eles fossem resgatados.
Representação da Expedição Donner
Outro caso famoso é o da Expedição Donner, cujos integrantes ficaram presos pela neve nas montanhas de Serra Nevada nos EUA — localizada entre a Califórnia e o Estado de Nevada — durante quase quatro meses. Tudo aconteceu em 1846, e o grupo era composto originalmente por 87 pessoas.
Depois de ficarem sem comida, os viajantes passaram a se alimentar dos ossos fervidos de animais e até de um cão de estimação, mas tiveram que começar a comer a carne dos que foram morrendo. Apenas 46 pessoas do grupo original sobreviveram à tragédia.