Ciência
23/10/2018 às 07:02•2 min de leitura
Você certamente já ouviu falar dos Manuscritos do Mar Morto, certo? Conforme já comentamos em matérias anteriores aqui do Mega Curioso, eles são milhares de fragmentos de documentos redigidos há mais de 2 mil anos em grego, aramaico e hebraico e que consistem na mais antiga coleção de textos bíblicos de que se tem notícia.
Os Manuscritos do Mar Morto foram descobertos acidentalmente no interior de cavernas próximas a Qumran, em Israel, por um garoto beduíno em 1947 e, apesar de terem se passado várias décadas desde que o material foi encontrado, de tempos em tempos as relíquias voltam a virar manchete pelo mundo, seja por conta do surgimento de novas traduções e fragmentos ou de teorias e discussões relacionadas com esses misteriosos documentos.
(The Washington Post/Oded Balilty/AP)
O burburinho desta vez, no entanto, tem a ver com um escândalo. Isso porque, testes realizados em 5 dos 16 fragmentos dos Manuscritos do Mar Morto que se encontram em posse do Museu da Bíblia de Washington, nos EUA, revelaram que as importantes relíquias podem ser elaboradas falsificações.
As análises foram conduzidas por um laboratório na Alemanha e apontaram que os 5 fragmentos examinados possuem características que não são consistentes com um documento de origem tão antiga.
Os exemplares foram submetidos a testes de microscopia digital 3D, de espectroscopia de raios X por dispersão em energia, e de fluorescência de raios X, para que os técnicos pudessem examinar a composição dos pigmentos usados para redigir os documentos e de sedimentos presentes nos fragmentos — e os resultados apontaram que a probabilidade de que as amostras sejam falsificações modernas é bastante alta.
Segundo as estimativas, os Manuscritos do Mar Morto teriam sido produzidos entre os séculos 3 a.C. e 4 d.C., e somam, no total, por volta de 50 mil fragmentos. Esses pedacinhos todos consistem em relíquias bíblicas disputadíssimas entre colecionadores de antiguidades, museus e instituições de pesquisa mundo afora — e, embora raramente as cifras oficiais sejam reveladas, os valores pelos quais os artefatos são obtidos rondam os milhões de dólares.
(National Geographic/Saul Loeb/APF/Getty images)
Acontece que, como existe “mercado” para as relíquias, é óbvio que também há quem enxergue a oportunidade de fazer dinheiro por meio de falcatruas. E tudo parece indicar que o museu norte-americano foi vítima de uma delas. Esta, aliás, não é a primeira vez em que a instituição se envolve em escândalos.
Construído ao custo de US$ 500 milhões (por volta de R$ 1,8 bilhão), o Museu da Bíblia de Washington foi inaugurado no final do ano passado e gerou polêmica quando veio a público a informação de que um dos principais benfeitores da instituição, responsável pela doação de milhões de dólares, é a família Green, que está no comando de uma companhia chamada Hobby Lobby — submetida a severas multas por contrabandear milhares de antiguidades saqueadas do Iraque.
(National Geographic/Bruce e Kenneth Zuckerman e Marilyn Lundberg/West Semitic Research/Museum of the Bible)
A própria aquisição dos fragmentos dos Manuscritos do Mar Morto gerou controvérsia, visto que, na época em que foi divulgada a notícia que a compra estava em negociação, um especialista nas relíquias veio a público para alertar o pessoal do museu de que as peças podiam não ser autênticas.
Enfim, a suspeita parece ter se confirmado e, de momento, os fragmentos não se encontram mais em exposição ao público. O problema é que, conforme mencionamos acima, o Museu adquiriu 16 frações no total, e a possibilidade de que o lote inteiro seja falso existe. Pense no prejuízo...
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