Artes/cultura
09/08/2020 às 03:00•2 min de leitura
Um estudo publicado na revista Science na última quinta-feira (30) explica o parasitismo sexual, uma curiosa estratégia reprodutiva do peixe tamboril das profundezas na qual pequenos machos se prendem ao corpo de fêmeas gigantescas com tamanha força que os tecidos de ambos acabam se fundindo.
O tamboril é um peixe muito conhecido pela sua feiura. Com uma aparência pouco atraente que mais parece uma grande boca dentada à qual o corpo foi anexado posteriormente, o animal era chamado de "demônio dos mares" pelos pescadores que se recusavam a trazê-lo a bordo.
Parasitismo sexual (Fonte: Edith A. Widder/Reprodução)
Esse monstrengo corpulento, que vive nas profundezas abissais do oceano, e que se assemelha a uma boca cheia de presas com uma lâmpada por cima do corpo é a fêmea da espécie. Quanto ao macho possivelmente ele passa despercebido pois, medindo apenas alguns centímetros, ele é às vezes confundido com um apêndice do corpo de sua companheira.
Isso acontece porque, durante o acasalamento da espécie, o macho se transforma num parasita produtor de esperma, agarrando-se de forma permanente à fêmea, a ponto de fundir seu sistema circulatório com o dela e permitir que aos poucos os seus olhos, barbatanas e a maioria de seus órgãos internos se degenerem.
Para um dos autores do estudo, Stephen Jay Gould, após a fusão completa com a fêmea o macho se torna "um pênis com um coração" e recebe nutrição constante enquanto a fêmea obtém esperma sob demanda para manter o ciclo vital.
No entanto, uma questão intrigava os biólogos: de que forma o sistema imunológico da fêmea do tamboril permite uma união parasitária tão permanente? Se o sistema imune humano tem dificuldade em aceitar transplantes de órgãos que não correspondam aos seus tecidos, como o corpo da fêmea do tamboril aceita até oito machos simultâneos sem nenhuma rejeição?
Agora, os pesquisadores do Max Planck Institute of Immunobiology and Epigenetics em Freiburg na Alemanha e da Universidade de Washington em Seattle, EUA, conseguiram decifrar esse enigma.
Segundo os cientistas, as fêmeas do tamboril não possuem os linfócitos T Killer, capazes de matar células com ameaças ao corpo ou tecidos estranhos. O estudo mostrou que forças evolucionárias permitiram que esses vertebrados sobrevivam sem a proteção imunológica adaptativa até então considerada insubstituível.