Artes/cultura
14/12/2020 às 07:00•2 min de leitura
Que viagens especiais custam muito caro a gente sabe, mas o que motiva empresas a investirem em tais iniciativas e quais são as perspectivas do setor? Para esclarecer dúvidas relacionadas ao tema, o Futurism conversou com Sailesh Ramakrishnan, ex-cientista da computação da NASA que desenvolveu algoritmos para rovers enviados a Marte e que, hoje, comanda a Rocketship, companhia de capital de risco também dedicada às empreitadas universais. Spoiler: ele acredita que as jornadas estão maduras o suficiente para o início de uma verdadeira ‘corrida do ouro’.
De acordo com o Ramakrishnan, antigamente, apenas governos conseguiam financiar esses empreendimentos, o que atrasava diversos processos. Isso, afirma, mudou, comparando a evolução da indústria ao que ocorreu com os computadores – que, em um período relativamente curto, saíram de suas bases para a internet e, eventualmente, para a nuvem, facilitando o acesso a serviços disponibilizados por terceiros e otimizando recursos.
“Antes, uma empresa espacial, mesmo no setor privado, precisaria de algo entre US$ 100 e US$ 200 milhões para chegar a um produto. Hoje, com poucos milhões ou até menos, se pode obter algo demonstrável em um prazo razoável. Não é mais: ‘Preciso gastar três anos e 200 milhões, com a possibilidade de perder tudo'”, destaca.
Existem dois aspectos essenciais relacionados à analogia de ‘corrida de ouro’ espacial, defende Sailesh. Um deles é que os custos estão se tornando cada vez mais razoáveis se o objetivo é apostar em produtos ou projetos. Além disso, conhecimentos profundos em diversas tecnologias, que exigiriam anos de análises, são dispensados quando, na base das ideias, existem companhias especializadas nas ações propostas – algo possibilitado pelo boom de startups relacionadas ao setor.
O segundo, afirma, é que, em vez de dedicar valores às empresas, é mais interessante para qualquer investidor direcionar montantes ao desenvolvimento de pedaços de operações que, em determinado momento, podem se tornar essenciais para tudo o que virá depois. “Nessa corrida do ouro, o espaço ainda é um negócio de alto risco, não importa como você o divida. Entretanto, os riscos são menores quando o que está em jogo são os componentes.”
“Você não quer investir nas mineradoras. Você quer investir na pessoa que vende as picaretas e as pás. Este é o momento em que os blocos de base estão sendo construídos”, ilustra o empresário.
Ainda é cedo para visualizarmos qualquer normatização industrial espacial, segundo Ramakrishnan, como os protocolos de nuvem e afins, vistos na computação. De todo modo, considera, já existem movimentos com esse objetivo, citando a SpaceX e suas operações de transporte de carga. Resumindo, os padrões estão aí, só estão fragmentados demais para formarem um cenário claro.
Quanto à transferência de responsabilidades a iniciativas privadas, o papel governamental será, acredita, garantir condições equitativas em regulamentos e acesso e certificar-se de que não haja monopólios de preços esmagadores. Além disso, terá papel financeiro fundamental neste período inicial, dando suporte a companhias que desejem participar do processo.
Tudo isso, complementa, acabará afetando a vida de todos na Terra, já que tais tecnologias serão capazes de aprimorar o transporte, a comunicação e por aí vai. “Minha filha agora vive em um mundo onde vários lançamentos para o espaço acontecem semanalmente. As crianças estão vivendo em um mundo no qual o futuro está à disposição.”
“Qualquer coisa e tudo o que você pensa em fazer vai mudar. E vai mudar porque essa aceleração está acontecendo muito rápido, como ocorreu com a internet. Este é o tipo de transformação à qual eu me refiro, mas se trata de algo muito mais ágil”, finaliza.
Ex-cientista da NASA prevê ‘corrida do ouro’ espacial em breve via TecMundo