Ciência
04/03/2021 às 14:30•2 min de leitura
Um dos fósseis de hominídeos mais famosos da ciência sem dúvidas é o de Lucy, uma Australopithecus que provavelmente viveu há 3,2 milhões de anos na Terra, em uma região que hoje é parte do deserto de Afar, na Etiópia. Outros restos conhecidos são os da Criança de Taung, um jovem Australopithecus africanus que provavelmente foi morto por uma ave de grande porte.
Porém, a reconstrução facial desses exemplares sempre foi um desafio. Afinal, como saber exatamente a pigmentação e as expressões desses seres que já não estão vivos há tanto tempo?
Um grupo de cientistas de diferentes universidades se juntou a artistas e, ao longo de anos, mostrou-se capaz de realizar essa verdadeira viagem ao tempo com cada vez mais precisão.
Para realizar o novo procedimento, o grupo utilizou moldes de silicone pigmentados com tons de pele similares aos de bonobos, que são macacos tidos como "parentes" próximos geneticamente dos humanos.
Lucy (esquerda) e a Criança de Taung (direita): menos "humanos" do que em retratações anteriores.
No caso da Criança de Taung, como a idade e o local habitado variam, foi utilizado um procedimento diferente, com tons de pele de humanos primitivos que habitaram a região da África do Sul, gerando dois resultados: um mais próximo da forma humana e outra mais voltada para os antepassados primatas, com feições menos diferenciadas.
As duas reconstruções da Criança de Taung: uma mais voltada ao lado primata, outra com traços já mais humanos.
Um dos pesquisadores envolvidos é o escultor e artista Gabriel Vinas, que ajudou a criar os modelos em 3D somente com base na reconstrução científica.
A principal contribuição do novo estudo é mostrar que as tecnologias aplicadas anteriormente na reconstrução facial de fósseis de hominídeos continham erros graves de metodologia que levavam a resultados incorretos.
Segundo os cientistas, os modelos gerados por computador não eram questionados e chegavam até a ser exibidos em museus, sendo que na verdade eles careciam de evidência empírica e eram bem diferentes uns dos outros.
Uma reconstrução de Lucy feita pelo grupo em 2018, ainda sem pelos no corpo.
Os novos resultados podem trazer até mesmo questionamentos sobre o que se acredita até agora no processo de evolução dos seres humanos.
Ainda de acordo com os pesquisadores, concepções genéricas do que era "primitivo" ajudaram na criação de alguns esboços, o que prejudicou o avanço no campo das reconstruções faciais desses indivíduos.
Uma das reconstruções do que seria o corpo de Lucy em exibição em um museu dos EUA.
O grupo é composto por cientistas da University of Adelaide, na Austrália, além de pesquisadores da Arizona State University e da Howard University, ambas nos Estados Unidos. O novo estudo foi publicado na revista científica Frontiers in Ecology and Evolution e pode ser acessado na íntegra no site do periódico.