Estilo de vida
01/04/2021 às 03:00•2 min de leitura
Neste dia em que se celebra a mentira, 1 de abril, vamos conhecer em que consiste o conceito que muitas vezes esconde processos mais obscuros. O neurocientista PhD Fabiano de Abreu tem desenvolvido estudos sobre a temática, principalmente quando a mentira é usada pelas crianças e atinge níveis de compulsão: o que é chamado de mitomania.
Segundo o neurocientista e psicanalista, "o ato de mentir é, por antemão, uma defesa criada pelo nosso cérebro para evitar sofrer algum tipo de dor, seja simbólica ou real. Mentir pode ser parte da estratégia para a nossa sobrevivência, mas também pode ser simplesmente o gosto pela mentira, pela sensação de prazer e recompensa desencadeada".
Muitas vezes não temos consciência de que estes processos têm raízes biológicas e nem sempre temos total controle sobre eles. "Mentir é uma ação desenvolvida com o processo evolutivo cerebral do ser humano, deixando evidente que além da realidade em que vivemos, existe um mundo inacessível em todos nós. Este é utilizado quando existe uma necessidade de alcançar algum objetivo, como se ativado o modo de sobrevivência quando a região primitiva é acionada com medo de sentir as punições e/ou enfrentar as consequências das ações realizadas", esclareceu o também neuropsicólogo.
No entanto, devemos ter em atenção quando limites são ultrapassados e quando uma mentira não é meramente uma simples mentira. Quando o ato de mentir se torna compulsivo tem que se admitir que existe um problema. A mitomania é considerada uma patologia. As principais causas da mentira patológica são decorrentes de traços da personalidade, problemas nas relações familiares e experiências estressantes ou traumáticas.
"O ato de mentir demasiadamente faz com que forcemos o nosso cérebro a trabalhar de maneira inadequada, criando um ciclo vicioso devido a sensação de recompensa liberada pelo neurotransmissor dopamina. Essa compulsividade altera significadamente a forma de nosso cérebro trabalhar", afirma Fabiano de Abreu.
Quando isto ocorre em crianças, temos que ter em conta as alterações que podem ocorrer e em como elas podem prejudicar toda a sua formação. "Quando a mentira chega num ponto onde a criança não consegue mais dizer a verdade, ela posteriormente se torna um adulto estrategista e frio, desencadeando desde cedo ansiedade, depressão e negatividade perante a própria vida.
Tal acontece, pois as sinapses são alteradas na região do córtex pré-frontal, criando essas anormalidades que precisam ser tratadas", explica o neurocientista. "Em caso de mentira e a percepção dela, os pais devem conversar com a criança, mostrando que tal ato não deve ser repetido, sem criar algum tipo de receio traumático. Quando identificada uma situação crônica, é necessária uma intervenção terapêutica", conclui.