Ciência
13/07/2021 às 04:00•2 min de leitura
Um experimento em laboratório apontou que peixes podem ficar viciados em metanfetamina e procurar por doses da droga em rios poluídos. Segundo um trabalho publicado na revista científica Journal of Experimental Biology, os animais de água doce são capazes de desenvolver uma dependência ativa pelo estimulante, que é liberado nos cursos de água através de sistemas de esgoto em áreas onde há o consumo da droga.
A equipe testou trutas-marrons — uma espécie comum em quase todo o mundo — e concluiu que mesmo pequenas concentrações podem ser suficientes para gerar o vício. “Ocorre poluição de água doce por metanfetamina onde há usuários [dessa droga]”, disse Pavel Horký, líder do estudo na Universidade Tcheca, ao site Live Science.
Para isso, eles dividiram 60 trutas em 2 tanques: um com água pura e o outro contaminado com 1 micrograma de metanfetamina por litro de água, para simular um rio poluído. Nesse último caso, os peixes ficaram no local por 2 meses e ao transferi-los para um ambiente limpo por 10 dias, observaram que os animais começaram a apresentar sintomas de abstinência.
Estudo apontou que trutas podem apresentar dependência por metanfetamina
Os locais de armazenamento foram então projetados para que os peixes pudessem transitar entre os 2 tipos de tanques sem misturar a qualidade da água. Foi observado que as trutas acostumadas com a metanfetamina nadavam em direção à água contaminada, o que levou a consideraram um sinal de dependência.
A equipe revelou que nos 4 primeiros dias de abstinência, os peixes estavam estressados e pouco se movimentavam, levando-os ao sedentarismo. Como comparação, o grupo também testou aqueles livres do composto, os quais não apresentaram mudança no comportamento.
Após o período da simulação, os pesquisadores coletaram amostras do tecido cerebral dos peixes em busca de metanfetamina e anfetamina, um subproduto da droga. Tal análise teria comprovado que a exposição à metanfetamina oferecia alívio da abstinência nos peixes viciados.
Contudo, alguns especialistas afirmam que essa constatação ainda carece de mais informações. “Não tenho certeza se você pode realmente dizer que esses peixes são viciados em metanfetamina, mas eles certamente mostram uma preferência pelo composto — o que não deveriam, na verdade”, comentou Gabriel Bossé, pesquisador da Universidade de Utah.
Ele utiliza a espécie peixe-zebra para conduzir seus estudos sobre distúrbios cerebrais complexos e desenvolveu uma técnica para analisar comportamentos de peixes em busca de opioides. Através desse método, ele afirmou que “a preferência por metanfetamina diminui depois de apenas alguns dias”, o que não configuraria necessariamente em uma dependência por um longo período de tempo.
Apesar disso, ele destacou que a droga de fato mudou o comportamento dos animais, logo, pode prejudicar a capacidade deles de migrar, encontrar comida, evitar predadores e de se reproduzir. Para Bossé, pequenos ajustes no experimento poderiam, de fato, fortalecer a hipótese dos autores, como submeter os peixes a um intervalo maior de tempo.
Além disso, sugeriu medir os níveis de cortisol dos animais e passar por testes formais de estresse — os quais são aplicados na oferta de luz em diferentes recipientes. Outro ponto seria verificar se os padrões de dependência e abstinência apresentariam os mesmos resultados em uma população de peixes no ambiente natural, bem como se medicamentos passíveis de prescrição — como antidepressivos — também afetam a vida aquática.