Artes/cultura
06/11/2021 às 06:00•2 min de leitura
Desde que o músico Roger Payne lançou o álbum Songs of the Humpback Whale (1970), que retratava pela primeira vez a vocalização das baleias-jubarte, os seres humanos se tornaram obcecados pelos sons emitidos por esses animais.
Embora nós não façamos ideia do que elas estão dizendo, não há como negar que a comunicação entre as baleias é algo fascinante. Mas e se pudéssemos interpretá-las e até mesmo falar em sua língua? Em uma recente leva de pesquisas, cientistas têm trabalhado para fazer esse processo acontecer.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Quando a personagem Dory, de Procurando Nemo (2003), fez o máximo de esforço para falar o "baleiês", todos levaram como se fosse uma piada. Porém, o que aconteceria se os humanos realmente conseguissem falar a língua das baleias? Se fossemos capazes de traduzir os cliques, assobios e choros emitidos por elas, poderíamos enviar uma mensagem de volta?
Comunicar-se com uma baleia parece algo muito longe da nossa realidade, mas estamos cada vez mais próximos de alcançar — por mais inacreditável que isso soe. A conversa interespécies está sendo conduzida pelo Projeto Iniciativa de Tradução Cetácea (CETI), que começou a sua jornada em março de 2020.
O objetivo do programa é conseguir decodificar as canções das baleias, estabelecer uma "linguagem comum" e, esperançosamente, conseguir se comunicar de volta. Se bem-sucedido, esse projeto seria um marco na história da humanidade e da ciência, sendo a primeira vez que conseguimos identificar a comunicação entre seres de espécies diferentes.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A ideia genial de colocar essa operação para funcionar aconteceu em uma conversa entre o cientista computacional Shafi Goldwasser e o biólogo marinho David Gruber, enquanto eles discutiam as similaridades entre o Código Morse e o som emitido pelas baleias cachalotes.
Os dois, então, uniram forças com o pesquisador Michael Bronstein, que sugeriu a utilização dos recursos de Inteligência Artificial para analisar o acervo de gravações de áudio das cachalotes em busca por padrões compatíveis à fala. A pesquisa questiona qual é o conceito geral que constitui o termo "linguagem" e se ele realmente existe fora dos seres humanos.
Em entrevista ao portal IFLScience, a bióloga Valerie Vergara, que dedicou boa parte de sua vida no estudo das baleias belugas, deu sua opinião sobre a comunicação cetácea. Segundo ela, sabe-se que as baleias jovens exibem sua própria "conversa balbuciante" enquanto tentam aprender as vocalizações de seus pais e de um grupo mais amplo de baleias.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Conseguir encontrar uma ferramenta que desvende a comunicação das baleias, no entanto, pode ser um processo complicado. Atualmente, nós temos algumas tecnologias que conseguem interpretar a linguagem humana e até mesmo completam os nossos textos. Porém, mesmo esse tipo de ferramenta ainda apresenta muitas falhas.
Nós temos o modelo de estudo e as gravações do som das baleias. Mas o que nos resta? Para o próximo passo, precisamos tentar colocar esse tipo de mecanismo que analisa mais de 175 milhões de palavras humanas para decifrar um banco de "somente" 100 mil sons de baleias — número coletado até o momento.
Depois disso, mais dados precisarão ser obtidos sobre essas criaturas marítimas para que a Inteligência Artificial possa aprender com maior eficácia. E mesmo que tudo isso funcione, nós ainda teríamos a incerteza quanto a maneira como as baleias reagiriam a esse tipo de estímulo.