'Black december': o ataque ambiental cometido pelo governo sul-africano

21/12/2022 às 04:003 min de leitura

Os tubarões estão entre os predadores aquáticos mais temidos do mundo, sobretudo pelos seres humanos. Apesar de você ter uma chance em 3,7 milhões em ser morto por um — o que significa que é mais provável morrer durante uma queda —, isso não diminuiu a periculosidade de um ataque. Afinal, as chances de se afogar no processo são bem relevantes.

Conforme um levantamento do American Ocean, para cada 100 milhões de tubarões mortos a cada ano, entre 6 e 8 pessoas morrem em decorrência a um ataque do animal. O International Shark Attack File (ISAF) confirmou 73 mordidas não provocadas de tubarões (quando ocorre no habitat natural do animal, sem provocação humana) em 2021, sendo que os Estados Unidos lideraram o ranking com 47 ataques não provocados, sendo a Flórida o estado onde ocorrem mais incidentes.

Hoje, as praias pelo mundo, inclusive no Brasil, onde há uma concentração maior de tubarões são monitoradas e possuem avisos espalhados para alertar os banhistas sobre os perigos de entrar na água. Fora isso, os animais não causam muitos problemas, mas já houve um episódio na história denominado black december ("dezembro negro" em tradução livre), quando o governo sul-africano bombardeou o oceano na tentativa de frear ataques de tubarões.

O ciclo de vítimas

(Fonte: Sony Alpha Universe/Reprodução)(Fonte: Sony Alpha Universe/Reprodução)

O problema começou quando Robert Wherley, de 16 anos, foi atacado por um tubarão enquanto praticava bodyboard nos arredores de Durban, uma cidade sul-africana ao longo da costa de Kwazulu-Natal, na tarde de 18 de dezembro de 1957. O ferimento foi tão extenso que custou a perna esquerda do jovem.

Apesar do teor dramático do acontecimento, a princípio, ele não gerou muito alarde. Afinal, esse tipo de incidente fazia parte das crônicas diárias da costa ensolarada sul-africana. Dois dias depois, porém, quando Allan Green, de 15 anos, foi mortalmente atacado enquanto simplesmente caminhava pela água, isso despertou um incômodo nas pessoas; e o nível de preocupação aumentou vertiginosamente quando Vernon James Berry foi morto na praia de Margate logo em seguida.

(Fonte: The Mercury News/Reprodução)(Fonte: The Mercury News/Reprodução)

Três ataques, incluindo duas mortes, em uma semana não podia ser considerado algo comum da costa. O pânico cresceu entre as pessoas, mas nem mesmo a sensação de alerta impediu que outra vida quase fosse levada, dessa vez de Donald Webster, na praia de Port Edward. O jovem saiu vivo graças a um milagre após levar uma mordida de um tubarão na cabeça e no pescoço.

A ideia do "dezembro negro", como o tino de uma maré de acontecimentos ruins, se instalou em uma época de sol que deveria ser marcada por diversão, férias e felicidade ao longo do paraíso subtropical.

Com os ataques ameaçando todos esses aspectos, incluindo o turismo, essencial para economia local, o governo decidiu intervir com uma série de soluções não muito convencionais.

A consequência de um erro

(Fonte: Save Our Seas Magazine/Reprodução)(Fonte: Save Our Seas Magazine/Reprodução)

O então caminhar lento da ciência impediu que medidas mais seguras, tanto para as pessoas quanto para os animais — afinal, eles estavam em seu habitat — fossem tomadas, sobretudo com o capitalismo sendo, como sempre, o centro das atenções.

A falta de conhecimento fez com que o governo equipasse com rifles os salva-vidas e os instruísse a atirar em qualquer sombra assustadora que vissem pelas águas cristalinas. Quando isso não funcionou — por motivos óbvios —, bombardear os tubarões com carga de profundidade foi a segunda opção. Contudo, em vez de atingir os tubarões, o bombardeio tirou a vida de centenas de cardumes, cujos cadáveres flutuaram até às praias, atraindo mais tubarões.

Enquanto o governo perdia tempo com ideias estúpidas e mirabolantes, os animais continuavam almoçando e jantando os banhistas com cada vez mais frequência e ferocidade. Na época, as autoridades não conseguiram explicar o fenômeno, mas os estudos modernos indicaram que os navios baleeiros que operavam nas proximidades da costa foram um dos fatores para atrair os tubarões, devido à quantidade de sangue de baleia que vazava para as águas.

(Fonte: Save Our Seas Magazine/Reprodução)(Fonte: Save Our Seas Magazine/Reprodução)

Além disso, a temporada atípica de chuvas que atingiu o litoral, inundando rios e riachos no entorno do Oceano Índico, criou um terreno ideal de caça para os grandes tubarões-brancos. A água turva erguida pelas chuvas se torna propicia para que os animais se escondam para que suas presas não saibam de sua presença.

A ideia final e bem-sucedida escolhida pelo governo — apesar de ser um extenso problema atualmente — foi a rede de tubarão. Uma vez que o bem-estar animal era o menos considerado naquele tempo, foi organizada uma série de assassinatos aquáticos de centenas de tubarões juvenis, diminuindo os ataques ao longo da costa. Depois disso, apenas dois incidentes ocorreram em três meses.

No final das contas, a comunidade científica aprendeu muito sobre os tubarões a partir de 1957 e também sobre o que estavam fazendo — talvez.

NOSSOS SITES

  • TecMundo
  • TecMundo
  • TecMundo
  • TecMundo
  • Logo Mega Curioso
  • Logo Baixaki
  • Logo Click Jogos
  • Logo TecMundo

Pesquisas anteriores: