O implante cerebral capaz de curar quadros severos de depressão

19/02/2023 às 08:003 min de leitura

Considerada a doença do século e a principal causa de incapacidade, a depressão é um problema de saúde pública mundial que afeta mais de 265 milhões de pessoas, conforme um relatório atualizado de 2020 da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A Associação de Serviços de Saúde Mental e Abuso de Substância notificou que adolescentes entre 12 e 17 anos apresentam a maior taxa de episódios depressivos (14,4%), seguidos pelos jovens de 18 a 25 anos (13,8%). O Brasil está alocado em quinto lugar no ranking de maiores casos, com cerca de 11 milhões de depressivos, ficando atrás dos Estados Unidos e da China, que lidera o ranking.

Pensando em tratar quadros severos, em que a pessoa apresenta sintomas de tristeza imensa e constante, desesperança, baixa autoestima, alterações no sono e no peso, atividade motora e dificuldade para memorização; cientistas criaram um implante cerebral para tratar a depressão.

O futuro

(Fonte: Anson Chan/TED Ideas/Reprodução)(Fonte: Anson Chan/TED Ideas/Reprodução)

Os pesquisadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco, criaram um implante elétrico que fica no crânio e conectado ao cérebro para poder detectar e tratar depressão grave, até então um quadro resolvido apenas por meio de tratamento medicamentoso, psiquiátrico e terapia.

O primeiro paciente se mostrou satisfeito e os cientistas acreditam que essa resposta seja promissora para um tratamento. O dispositivo instalado há mais de um ano em Sarah, de 36 anos, é acionado por um impulso que sente e que acontece quando a paciente pode precisar.

(Fonte: Inner Cosmos/UNILAD/Reprodução)(Fonte: Inner Cosmos/UNILAD/Reprodução)

Sarah teve o primeiro sentimento de alívio em 5 anos após enfrentar uma sucessão de tratamentos fracassados, incluindo antidepressivos e terapia eletroconvulsiva. Até a cirurgia, algo assustador para muitas pessoas, se tornou pequena diante da perspectiva de obter qualquer tipo de alívio daquela escuridão que ela vivia.

“Minha vida diária era muito restrita. Eu me sentia torturada. Eu mal me movia ou fazia qualquer coisa”, disse a mulher, em uma coletiva de imprensa.

Uma vida nova

(Fonte: Maurice Ramirez/UCSF/Reprodução)(Fonte: Maurice Ramirez/UCSF/Reprodução)

Sarah recebeu anestesia geral para ter o crânio perfurado em pequenos orifícios e receber no osso, sob o couro cabeludo, a compacta caixa contendo a bateria e o gerador de pulsos. O procedimento durou um dia inteiro de trabalho e, quando ela despertou, sentiu os efeitos imediatos.

Enchida com a sensação de bem-estar e euforia, em poucas semanas, Sarah viu seus pensamentos suicidas desapareceram pela primeira vez. Um ano se passou desde o dia que ela se deitou na mesa de cirurgia para ser uma paciente de teste, e sua vida apenas melhorou, sem nenhum efeito colateral ou diminuição dos resultados.

(Fonte: John Lok/UCSF/Reprodução)(Fonte: John Lok/UCSF/Reprodução)

Acostumada com uma vida afetada em todos os aspectos pela depressão severa, Sarah se viu tendo que se readaptar a tudo para conseguir realizar tarefas que eram comuns para outras pessoas, como o simples ato de olhar para um cardápio e fazer um pedido.

“Precisei aprender a reaprender como ter opiniões sobre as coisas e realmente escolher algo em um menu e pedir, não apenas concordar com o que todo mundo queria. Eu estava muito acostumada com o fato de não poder tomar decisões, essa capacidade simplesmente se atrofiou e desapareceu em mim nos últimos cinco anos”, revelou.

Como funciona

(Fonte: Inner Cosmos/Reprodução)(Fonte: Inner Cosmos/Reprodução)

O implante cerebral é programado para detectar a atividade cerebral relacionada à depressão, aplicando estimulantes elétricos em um local específico para aliviar os sintomas – uma tática também aprovada para o tratamento de quadros de epilepsia.

Publicado em 4 de outubro de 2022 na revista Nature Medicine, o estudo especifica que os eletrodos implantados no cérebro de Sarah são usados para sondar seus circuitos emocionais. Os cientistas descobriram que um local específico do nosso cérebro pode diminuir a ansiedade e outro aumentar os níveis de energia.

A equipe notou que a reação foi imediata quando ativaram um local fundo no cérebro da paciente, uma área relacionada à recompensa chamada "estriado ventral". Quando um estímulo foi aplicado naquele local, Sarah estava bordando e ficou surpresa ao perceber que realmente estava gostando daquela atividade, experimentando um sentimento de alegria e felicidade.

(Fonte: Ken Probst/UCSF/Reprodução)(Fonte: Ken Probst/UCSF/Reprodução)

Considerando que a depressão pode variar entre os indivíduos, houve esforços para conseguir mapear quando um eletrodo deve ser ativado em antecipação aos sintomas que se tornam mais graves, semelhante à abordagem adotada com casos de epilepsia. Sendo assim, eles procuraram o que chamam de "biomarcador", para poder fornecer esse tipo de alerta, encontrando-o na amígdala, que mede os processos emocionais para detectar a atividade gama e também está ligada ao corpo estriado.

A estimulação acontece em uma rajada curta de 6 segundos, depois o dispositivo é desligado até que outro aviso de gama seja recebido. Essa ativação intermitente não chega a mais de 30 minutos por dia. Isso foi o suficiente para manter a depressão de Sarah sob controle, permitindo que ela reconstruísse uma vida digna de ser vivida.

Quando o dispositivo Neuropace RNS, que custa US$ 30 mil, for usado em outra pessoa, a terapia será novamente personalizada para se adequar ao tipo de quadro. Mas ainda são necessárias muitas pesquisas para que os cientistas concluam se a terapia experimental pode ajudar mais pessoas com esse quadro de depressão.

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