Ciência
28/02/2023 às 13:00•3 min de leitura
Poucos sabemos sobre o programa espacial brasileiro porque ele é incipiente. Porém, desde o acordo firmado pelo governo do Brasil com o dos Estados Unidos em 2019, essa situação está em processo de mudança. E a grande responsável é a base de Alcântara, o espaçoporto brasileiro localizado na cidade de mesmo nome, que completa 40 anos dia 1º de março.
Administrado pela Agência Espacial Brasileira (AEB) e operado pela Força Aérea Brasileira (FAB), ela faz parte do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), uma base brasileira para despacho de foguetes, integrante de um complexo de cerca de 20 mil hectares. Separamos algumas curiosidades a respeito para compartilhar com vocês.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Um dos aspectos que mais interessantes a respeito da base de Alcântara é sua localização. Ela está estrategicamente localizada a dois graus da Linha do Equador, região em que a velocidade de rotação da Terra é maior do que em latitudes elevadas. Ainda, a cidade de Alcântara é conhecida pela regularidade meteorológica, o que auxilia na redução de atrasos, que geram mais custos para o lançamento.
A posição da base, segundo estimativas, permitiria que o foguete gastasse até 30% menos combustível, resultando em uma imensa economia. A Starship, da SpaceX do magnata Elon Musk, foi desenvolvida para gastar em torno de US$ 900 mil em combustível, de um total de até US$ 2 milhões.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Anunciada em 1982, a base de Alcântara ficou pronta no dia 1º de março de 1983, data inclusive que é considerada a oficial da inauguração do Centro de Lançamento. O local era considerado o futuro do projeto espacial brasileiro. Contudo, foram longos 6 anos até que a infraestrutura da área estivesse apta a operar.
Em novembro de 1989, o CLA foi finalmente entregue. Oficialmente, o primeiro lançamento da base de Alcântara ocorreu no dia 21 de fevereiro do ano seguinte. Naquela data, o foguete de sondagem Sonda 2 XV-53 foi lançado, atingindo uma altitude de 101 quilômetros. Até hoje, o número de voos falhados é muito baixo, totalizando apenas 5.
(Fonte: FAB/Reprodução)
Desde que o Brasil firmou acordo de salvaguardas tecnológicas com os Estados Unidos, em dezembro de 2019, que o governo pretende aproveitar a localização privilegiada de Alcântara para atrair outros interessados em explorar o CLA. As estimativas da Força Aérea Brasileira é de que seja possível arrecadar aproximadamente R$ 140 milhões ao ano, valor que supera em cinco vezes o orçamento do programa espacial nacional.
De toda forma, ainda é uma parcela ínfima se imaginarmos que o mercado mundial de lançamentos de foguetes movimento US$ 5 milhões ao ano. Até Elon Musk veio conhecer as instalações, visando aproveitá-las para sua SpaceX. As possibilidades para a região são grandes.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A história da cidade de Alcântara é bem anterior à base. Sua fundação ocorreu em 1648, mas a ocupação do território remonta à ocupação francesa do Maranhão, no início do século XVII. De acordo com dados oficiais da prefeitura, há mais de 300 construções do tempo do Brasil colônia, além de lindas praias, completando o enorme potencial turístico da região.
No século XVIII, chegou a ser o maior centro produtor do estado, com economia mais forte que a capital, São Luís. Em 2020, o então presidente Jair Bolsonaro criou a Comissão de Desenvolvimento Integrado, que visa desenvolver a infraestrutura da região, criando modelos de negócios que impulsionem a cidade e as atividades espaciais.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Se você fica maravilhado de ler as informações sobre o CLA, talvez se espante em descobrir que ela não é o único espaçoporto do território nacional. Quando sua construção foi iniciada, em 1982, a ideia é que ele servisse como alternativa ao Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), localizada em Parnamirim, a 12 quilômetros de Natal, no Rio Grande do Sul.
A Barreira do Inferno foi a primeira base aérea de foguetes criada no continente, lançada oficialmente em 12 de outubro de 1965. Ela possui uma pequena faixa de praia, de acesso proibido, utilizada para reprodução de tartarugas marinhas. A coordenação da área é do Projeto Tamar.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Em 2003, três dias antes de ser lançado, o foguete VLS-1 V03 acionou um de seus três motores por uma falha elétrica. Isso gerou um grande incêndio na estrutura de lançamento, seguido de explosões, que destruíram o foguete e a plataforma de lançamento. Ao todo, 21 técnicos civis morreram.
O acidente é considerado responsável pelo Brasil ter desacelerado seu projeto espacial. Uma teoria da conspiração surgiu à época, tentando ligar o governo norte-americano ao incidente. O assunto retornou à tona quando o WikiLeaks divulgou que os Estados Unidos desejavam que o país nunca tivesse um projeto espacial.
Todavia, todas as investigações e relatórios demonstraram que o problema foi elétrico, relacionado especialmente com falta de recursos e desorganização do projeto.