Saúde/bem-estar
26/03/2023 às 08:00•3 min de leitura
Em março de 2023, morreu a última orca que ainda vivia em cativeiro no Canadá: uma fêmea chamada Kiska. Ela tinha 47 anos e passou a maior parte de sua vida sozinha em um aquário, desde que foi capturada em 1979. As imagens de Kiska nadando em círculos em um pequeno reservatório rodaram o mundo, nos últimos dias.
Foi assim que Kiska viveu por 40 anos, nadando em círculos em um aquário minúsculo. pic.twitter.com/MhVa9X6I8y
— ACERVO (@AcervoCharts) March 11, 2023
Se você cresceu nos anos 1990, talvez se lembre de assistir ao filme Free Willy na "Sessão da Tarde", ou ver reportagens sobre os parques SeaWorld e suas apresentações com orcas em programas infantis. Os animais, com aparência curiosa e enorme inteligência, fazem várias brincadeiras para o público e para as câmeras. Mas isso faz muito mal para eles.
As orcas — também chamadas de baleias assassinas, embora sejam da família dos golfinhos — começaram a ser capturadas para exibição em shows aquáticos em 1961. Desde então, mais de 160 tiveram o mesmo destino, sendo que cerca de 130 delas morreram.
A primeira a conseguir sobreviver por mais de dois dias em um aquário, Moby Doll, se tornou famosa. Mas Moby Doll não comia os peixes pequenos que jogavam em seu aquário (afinal, na natureza, eles se alimentam de animais maiores) e morreu poucos meses depois.
À medida que os humanos aprenderam mais sobre as orcas, foi possível fazer com que elas sobrevivessem por mais tempo — e se exibissem em seus shows para trazer lucro. Entre os anos 1960 e 1970, dezenas de animais foram capturados nas águas dos Estados Unidos e Islândia. Alguns deles estão vivos até hoje ou morreram recentemente.
A seguir, listamos as três que viveram por mais tempo em cativeiro.
Corky II. (Fonte: Wikimedia Commons)
Corky é a segunda orca com esse nome no parque para onde foi vendida, após ser capturada na costa do Canadá — a primeira morreu com pouco tempo de vida. No Marineland (Califórnia), ela viveu com Orky, com quem teve seis filhos em cativeiro. Mas nenhum deles sobreviveu por mais do que algumas semanas.
No fim dos anos 1980, ela foi vendida ao SeaWorld. Mas, pouco tempo depois de sua chegada, a então orca dominante do lugar, Kandu V, a desafiou e acabou morrendo na briga. Corky II foi a mãe adotiva do bebê de Kandu V, na época com 11 meses.
Ela vive no Sea World até hoje, mas membros da família de Corky que não foram capturados são monitorados por ONGs e também vivem até os dias atuais.
Lolita. (Fonte: Wikimedia Commons)
As décadas de 1960 e 70 foram as mais "produtivas" para quem queria capturar orcas e exibi-las em shows. Ela foi capturada em uma "operação" na costa do estado de Washington (EUA), que vendeu oito orcas para parques em todo o país. Lolita é a que sobreviveu por mais tempo desse grupo — e está há mais de 50 anos no Miami Seaquarium.
Por algum tempo, ela viveu com o macho Hugo. Eles tentaram se reproduzir, mas nunca foram capazes de dar à luz. Hugo morreu de aneurisma, em 1980, após bater com a cabeça nas laterais do aquário, que media 24 x 11 metros.
Em 2022, após anos de protestos, o Miami Seaquarium anunciou que Lolita se aposentaria dos shows — mas ela não será solta na natureza novamente.
Katina. (Fonte: Wikimedia Commons)
Capturada em 1975, na Islândia, Katina teve sete filhotes, quatro fêmeas e dois machos, que viveram até a idade adulta. Dois deles (e um neto) ficam com ela, porém, uma das "filhas" próximas de Katina foi transferida para outra sede do parque para fazer shows.
As orcas são animais muito sociáveis que desenvolvem grupos familiares bastante unidos e com linhagem matriarcal. Sendo assim, Katina é a chefe da tribo no SeaWorld Orlando. Embora seja descrita como dócil e tranquila, sem histórico de ataques a humanos, ela é voluntariosa e pode querer não se apresentar. Quando isso acontece, os outros animais seguem o exemplo.
Depois de Katina, temos Kiska, que também ficou por 47 anos em cativeiro — mas não pode se reproduzir, já que cinco de seus filhotes morreram cedo. Já Kasatka foi capturada em 1978, aos dois anos, e morreu de eutanásia em 2017, vivendo 41 anos em cativeiro.
Entre os machos, Tilikum se destaca: ele viveu por 34 anos no SeaWorld. Dos quatro ataques fatais de orcas a humanos, ele se envolveu em três. A vida de Tilikum inspirou o documentário Blackfish, de 2013, que argumentava contra a manutenção de orcas em cativeiro.
Nos últimos anos, especialmente após o documentário, a pressão pública contra os parques e shows de orcas aumentou, com impacto direto no faturamento. Em 2017, o SeaWorld chegou a anunciar que iria encerrar seu programa de reprodução de orcas em cativeiro — a maioria das orcas vivas hoje nasceram nos próprios parques. Mas, em 2020, os shows voltaram.
Os parques argumentam que as orcas não poderiam viver na natureza, pois se acostumaram a serem alimentadas por humanos. Mas já que viver em aquários também não é natural para uma espécie acostumada a nadar 160 km por dia, esse impasse continua. Alguns biólogos sugerem a criação de "santuários" marinhos, onde elas ficariam mais livres, mas ainda sob supervisão.