Ciência
06/05/2023 às 10:00•3 min de leitura
Na segunda metade do século XX, a tendência do retrofuturismo contaminou vários aspectos da sociedade, que delirava com a possibilidade de cidades inteiras suspensas nas nuvens, carros voadores, armas de raio e até um estilo de vida global belo e engenhoso.
Essa ideia ainda não se concretizou – embora a humanidade possa estar chegando bem perto disso –, mas muita coisa que foi prevista acabou sendo alcançada na virada do século, mesmo que nem sempre da maneira imaginada originalmente.
Alguns, no entanto, fugiram à regra, como foi o caso do escritor Arthur C. Clarke, que previu a invenção da internet de uma forma tão meticulosa e específica que se tornou um dos mais relevantes do período.
(Fonte: Nature/Reprodução)
Nascido em 16 de dezembro de 1917, em Somerset, na Inglaterra, Arthur C. Clarke não ficou conhecido como "Profeta da Era Espacial" por acaso. Entre suas obras de sucesso está a revolucionária 2001: Uma Odisseia no Espaço (1964), que colocou o autor como o futurista mais influente do século XX – e o mais famoso –, responsável por popularizar as viagens espaciais e um olhar promissor para o futuro.
Ao longo de 60 anos de carreira, Clarke criou romances e contos de ficção científica que se equilibravam na linha tênue de uma imaginação especulativa fértil com um rigor científico característico, enriquecido por sua formação em matemática e física. Todo seu trabalho ficou ainda mais consagrado por sua associação profissional com as indústrias de telecomunicações e espaciais de sua época.
Muito embora 2001: Uma Odisseia no Espaço tenha selado sua posição como autoridade absoluta sobre o futuro da humanidade, foram as profecias que Clarke lançou em documentários e entrevistas que tiveram um apelo ainda mais duradouro.
(Fonte: TechTheLead/Reprodução)
No mesmo ano do lançamento de 2001, Clarke foi convidado para estrelar um documentário da BBC compondo o pavilhão da GM na Feira Mundial de 1964, que sustentou invenções absurdas que ultrapassaram a barreira da imaginação, como máquinas a laser que limpariam selvas em horas.
O que marcou o vídeo, no entanto, foi quando Clarke apareceu para dar a sua visão de como acreditava que o mundo seria em 50 anos, ou seja, em 2014. O escritor falou sobre como o avanço dos transistores e satélites alteraria radicalmente a compreensão humana sobre o espaço físico, permitindo um mundo no qual poderíamos estar em contato instantâneo onde quer que estivéssemos, mesmo não sabendo a localização física real.
(Fonte: Rental Computer/Reprodução)
Clarke incrementou essa ideia em uma entrevista à TV australiana, em 1974, quando questionado por um repórter como seria o mundo de 2001 para seu filho. Ele respondeu que seu filho teria uma espécie de console pelo qual poderia conversar com seu amigo de um computador local e obter todas as informações de que precisasse para seu dia a dia, como extratos bancários e ingressos para o teatro. Todas as informações necessárias para viver em uma sociedade moderna complexa estaria em uma rede não visível de armazenamento.
Dois anos mais tarde, durante uma coletiva de imprensa do MIT, Clarke expandiu o tipo de tecnologia interativa que permitira o e-mail e outras formas de mensagens de rede que agora são familiares para nós. O homem disse que seria uma tela de TV de alta definição, e um teclado de máquina de escrever, e através dele seria possível trocar qualquer tipo de informação.
Essa ideia cruza também com a que sugeriu no programa de 1964 da BBC, em que ele previu os satélites de comunicação, que permitiriam um mundo em que poderíamos fazer contato instantâneo uns com os outros, de onde quer que seja. Ele chegou a escrever um ensaio em 1959 sobre um encontro com um executivo de uma rede americana entusiasmado com a possibilidade de que os satélites e as novas tecnologias de comunicação poderiam oferecer no campo do entretenimento.
(Fonte: Goodreads/Reprodução)
Clarke conseguiu ser mais específico do que a maioria de seus contemporâneos ao prever os mecanismos de busca essenciais para o funcionamento da internet durante a conferência de 1976 do MIT, em que descreveu que seria possível a pessoa dizer à máquina o que está interessado em ver e esses assuntos surgiriam sem que fosse necessário navegar por um "mar de lixo".
Todo esse tom aspiracional de Clarke prosperou muito na sociedade pós-guerra que, literalmente, não via outro caminho senão "para cima".
“A única coisa que podemos ter certeza sobre o futuro é que será absolutamente fantástico, portanto, se o que digo agora parece muito razoável para você, então terei falhado completamente. Somente se o que eu digo parecer inacreditável, teremos alguma chance de visualizar o futuro como ele realmente acontecerá”, disse Clarke.