Estilo de vida
09/10/2023 às 12:00•2 min de leitura
Um estudo realizado em cooperação pela Universidade de Bern, Universidade de Cambridge e o Wellcome Sanger Institute fez uma descoberta incrível sobre a importância da hibridização para a evolução das espécies. Os pesquisadores perceberam que o lago Vitória, localizado na África Oriental, pode ter sido o palco para o surgimento de 500 novas espécies de peixes ciclídeos em menos de 16 mil anos.
O que pode parecer muito tempo, é, na verdade, um piscar de olhos em termos evolutivos. Normalmente, o surgimento de novas espécies pode levar milhões de anos. E a resposta para o porquê dessa multiplicidade de espécies pode estar nas características do lago — e na hibridização de espécies.
Ciclídeos são conhecidos pela variabilidade de formato nas espécies. (Fonte: GettyImages/Reprodução)
A pesquisa, liderada pela Dra. Joana Meier e publicada na revista Science, descobriu que 500 novas espécies derivaram de apenas três linhagens que chegaram ao lago Vitória quando ele se formou. A formação do lago ocorreu devido a uma seca que definiu os cursos de água da região como a conhecemos atualmente.
Uma das razões para a mistura de espécies no lago pode ter sido a característica lamacenta e obscura da água, que dificulta a distinção das espécies. Isto acarretava numa maior probabilidade de hibridização. A grande variabilidade de cores e tamanhos das novas espécies também pode ter sido influenciada pelo ambiente.
Normalmente acredita-se que a hibridização tende a não prosperar, já que muitos dos indivíduos gerados com mistura entre espécies são inférteis. Mas, no caso do lago Vitória, a hibridização foi tanta que mesmo que muitas espécies não tenham continuado, várias outras deram certo.
O estudo também demonstra que a hibridização de espécies pode ser bem mais comum do que a ciência acreditava até aqui. Os novos métodos de mapeamento do genoma do DNA estão demonstrando que muitas espécies têm traços de hibridização. Sabe-se, inclusive, que alguns humanos atuais tem traços de homens de Neanderthal e de Denisova.
A variabilidade genética no lago é tanta que existem espécies que se alimentam de plâncton, outras de alga e até espécies predadoras de outros peixes, todas com as linhagens rastreáveis até as três originais. Além disso, ciclídeos dos mais diversos tamanhos e cores podem ser encontrados no lago — que é um dos maiores da África, com uma área de quase 69 mil metros quadrados que ultrapassa as barras da Tanzânia, Uganda e Quênia.
Lago Vitória visto do espaço. (Fonte: GettyImages/Reprodução)
Peixes ciclídeos (Cichlidae) são uma família de peixes da ordem Perciformes e estima-se que existam pelo menos 3 mil espécies espalhadas pelo mundo. Os ciclídeos são a maior família de peixes em quantidade de indivíduos no planeta e correspondem a cerca de 5% de todos os animais vertebrados.
Os ciclídeos se caracterizam pelo corpo lateralmente comprimido, por ter uma narina em cada lado do corpo e ter espinhos nas nadadeiras dorsal e anal. Além disso, outras características anatômicas os distinguem de outras famílias. A variedade de cores e configurações na família é imensa, os peixes africanos, por exemplo, podem medir entre 2,5 cm e 80 cm.