Estilo de vida
14/11/2023 às 03:00•2 min de leitura
Quando os fósseis de um dinossauro da espécie Thescelosaurus negligente foram analisados pela primeira vez, os paleontólogos não encontraram nada de interessante. Mas um novo estudo, baseado na reconstrução digital do seu cérebro, sugere que o réptil possuía sentidos superdesenvolvidos, lhe dando capacidades extraordinárias.
Batizado de Willo, o animal que viveu há 66 milhões de anos, na América do Norte, tinha um superolfato e equilíbrio excepcional, de acordo com o estudo publicado na revista Scientific Reports, no dia 6 de novembro. Para detectar estas capacidades, os autores realizaram uma tomografia computadorizada dos restos mortais, encontrados em 1993.
A tecnologia permitiu que a equipe, formada por cientistas da Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e da Universidade de Bristol, no Reino Unido, reconstruísse tecidos moles do crânio do dinossauro. Perdidas durante a fossilização, partes como o cérebro e o ouvido interno ganharam uma versão digital.
(Fonte: Scientific Reports/Reprodução)
Essas estruturas pertencentes a Willo foram comparadas com as de outros dinossauros e seus parentes vivos. Os resultados mostraram que ele não tinha uma boa audição, já que ouvia apenas 15% das frequências escutadas pelos humanos e não era capaz de ouvir sons agudos, porém a deficiência era compensada de outras formas.
Nesta nova investigação, os pesquisadores descobriram que os bulbos olfativos do Thescelosaurus negligente, áreas do cérebro responsáveis pelo processamento do cheiro, eram maiores do que os de qualquer outro dinossauro conhecido até o momento. As estruturas são semelhantes às dos jacarés, que sentem o cheiro de uma gota de sangue a quilômetros de distância.
É possível que o réptil, cujo nome científico significa algo como “lagarto maravilhoso e esquecido”, em tradução livre, tenha usado seu superolfato para procurar comida, especialmente vegetais enterrados como tubérculos e raízes. A análise mostrou, ainda, um senso de equilíbrio igualmente acima da média.
Willo viveu no período Cretáceo junto com outros predadores. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
“Ele também tinha um senso de equilíbrio incomumente bem desenvolvido, ajudando-o a identificar a posição do corpo no espaço 3D, outra característica frequentemente encontrada em animais escavadores”, especificou o pesquisador da Universidade de Bristol, David Button, em nota.
O estudo aponta que Willo tinha aproximadamente 3,6 m de comprimento e pesava em torno de 340 kg. Os fósseis do dinossauro estão guardados no Museu de Ciências Naturais da Carolina do Norte, nos EUA.
A combinação de olfato e equilíbrio superdesenvolvidos, braços e pernas poderosos e habilidades auditivas e cognitivas diminuídas sugere que o Thescelosaurus negligente passava pelo menos parte do seu tempo no subsolo. Animais que atualmente apresentam características semelhantes vivem abaixo da terra.
“A ideia de que possam ter existido dinossauros vivendo sob os pés do t-rex e do triceratope é fascinante”, declarou a chefe de paleontologia do Museu de Ciências Naturais da Carolina do Norte, Lindsay Zanno, coautora do estudo.