Mistérios
07/12/2023 às 09:00•2 min de leitura
Um estudo sobre ciclos de sono e vigília publicado recentemente na revista Science trouxe algumas novidades capazes de matar de inveja os pais e mães modernos: os pinguins-de-barbicha (Pygoscelis antarcticus) têm uma forma extrema de sono polifásico. Quando estão nidificando seus filhotes, essas aves marinhas acumulam 11 horas de sono divididas em microcochilos de 3,91 segundos de duração.
O que impressiona, no entanto, mais do que a quantidade de sonecas, que pode chegar a 10 mil por dia, é que esse sono partido parece, no geral, ser bastante restaurador para eles.
De acordo com o colíder do estudo, biólogo pesquisador do Centro de Pesquisa em Neurociência em Lyon, Paul-Antoine Libourel, "Eles sempre parecem estar em um estado de microssono". E isto é surpreendente porque, nessas colônias, o sol do verão antártico brilha 24 horas por dia, sete dias por semana. Sem contar a algazarra de milhares de pinguins e o cheiro insuportável do seu guano (cocô).
(Fonte: Getty Images)
Para avaliar suas descobertas, os pesquisadores utilizaram registradores de sono para capturar a atividade cerebral dos pinguins-de-barbicha em nidificação. Eles passam a maior parte de suas vidas no mar, mas retornam à terra anualmente, onde formam grandes colônias para construir ninhos, procriar, chocar ovos e vigiar suas crias.
A dedicação total dos pinguins às tarefas de nidificação tem um motivo especial: as skuas, aves marinhas parecidas com as gaivotas, porém maiores e mais agressivas. Elas são predadoras vorazes e têm uma preferência por ovos e filhotes de pinguins.
Por isso, os pais pinguins são praticamente obrigados ao recurso do microssono, para poder se revezar na busca de comida no mar e também na proteção da ninhada, tanto das skuas como de outros pinguins desordeiros da própria manada
(Fonte: Getty Images)
A avaliação dos dados mostrou que um pinguim-de-barbicha típico chega a passar até 22 horas do seu dia nidificando e, nas duas horas restantes, continua desperto em busca de alimento. Os registros de ondas lentas, um estágio no qual o sono está associado à recuperação corporal, mostraram que as pequenas aves dormiam com os dois hemisférios cerebrais (sono bi-hemisférico) ou com um só (sono uni-hemisférico).
Essa conduta, que também é adotada por animais como golfinhos e peixes-boi, tem, nos pinguins-de-barbicha, uma duração incomumente baixa, chegando a mais de 600 episódios de ondas lentas por hora, tanto nos pais nidificando quanto nos que procuram alimentos, embora estes últimos fiquem a maior parte do tempo acordados, enquanto estão no mar.
Para os autores, essas descobertas podem levar a uma melhor compreensão sobre condições que afetam os nossos estados de sono-vigília, como na apneia do sono, e outros que impactam a função cognitiva e podem levar ao surgimento de doenças neurodegenerativos, como o Alzheimer.