Besouros criam 'apocalipse de insetos' em cajueiros no Piauí

13/12/2023 às 04:302 min de leitura

No início de outubro, uma nuvem de inúmeros besouros avermelhados desceu sobre a pequena cidade de Pio IX, no sul do estado do Piauí. Centenas de famílias locais de produtores de caju observaram horrorizadas a chegada dos insetos, quase como se fizessem parte de uma praga bíblica.

Rapidamente, esses animais pousaram nas árvores e comeram tudo que viram pela frente, desde frutas a brotos. Outras árvores frutíferas, como os umbuzeiros e as seriguelas, também não foram poupadas. Como o Piauí é o segundo maior produtor brasileiro de caju, cerca de 30% da produção local foi perdida em menos de um mês devido à praga. 

Praga surpreendente

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

Sem conseguir contar a quantidade de besouros que sobrevoavam o Piauí, moradores da região estimam que milhões dos insetos avermelhados chegaram inesperadamente no local em outubro. Para capturá-los, os agricultores decidiram montar armadilhas luminosas à noite. Como essas criaturas eram atraídas pela luz de uma lâmpada, os insetos passaram a encher baldes de 60 litros, de onde eram depois retirados com pás.

Com a ajuda de amostras enviadas do campo, pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) identificaram o inseto como Liogenys pilosipennis. A espécie foi descrita pela primeira vez em 2015 por cientistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) com base em exemplares coletados no cerrado. Em média, essas criaturas têm 12,5 milímetros de comprimento e 6 milímetros de largura.

No final de outubro, especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Meio-Norte, sediada em Teresina, e de órgãos de defesa agropecuária do Piauí se reuniram para elaborar um plano de combate à praga, que atacou cajueiros pela primeira vez na história. 

Causas do fenômeno

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

Após a reunião, especialistas passaram a recomendar aos agricultores não aplicarem inseticidas nos cajueiros, uma vez que a região é também conhecida pela produção de mel orgânico. Como alternativa, as armadilhas luminosas seguem parecendo ser a metodologia mais viável e sem riscos ao meio ambiente para lidar com os besouros avermelhados. 

Segundo os pesquisadores, locais onde as armadilhas luminosas têm sido usadas estão presenciando uma redução na quantidade de besouros. Na visão dos especialistas, as nuvens de besouros podem ser uma consequência do período prolongado de chuvas na região, uma resposta às mudanças climáticas que têm afetado o nosso planeta nos últimos anos.

No Piauí, as chuvas fortes ocorreram por seis meses consecutivos em vez dos três meses habituais observados ao longo da história. Como consequência, as larvas, que se alimentam de matéria orgânica em decomposição, tiveram mais tempo para se desenvolver. Isso fez com que os besouros emergissem em grande quantidade, sem que os seus inimigos naturais tenham se proliferado na mesma velocidade. 

Para piorar a situação, os tatupebas (Euphractus sexcinctus), também chamados de tatu-cascudo e predadores naturais dos besouros vermelhos, são cada vez mais raros no semiárido. Sendo assim, a tendência é que o cenário só se agrave no futuro caso a humanidade não tome medidas para frear nosso impacto na Terra. 

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