Artes/cultura
06/01/2024 às 10:00•2 min de leitura
O ano começou com uma excelente notícia para a ciência: foi descoberto um novo antibiótico com potencial para matar superbactérias. O estudo, desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Harvard (EUA) e da companhia farmacêutica suíça Hoffmann-La Roche, teve seus detalhes publicados no início de janeiro em artigo na revista científica Nature.
Chamada de zosurabalpina, a substância se mostra especialmente promissora para combater a bactéria Acinetobacter baumannii (CRAB, na sigla em inglês), muito conhecida por ser resistente aos antibióticos carbapenêmicos. De forma simples, esta é uma classe de antibióticos largamente utilizada devido à sua eficácia contra um grande número de bactérias.
Pneumonia, bronquiolite e traqueobronquite estão entre as infecções respiratórias que podem ser causadas pela CRAB. E um de seus focos de proliferação favoritos são os ambientes hospitalares, o que aciona o alerta para pessoas com a saúde já debilitada. Para se ter uma ideia, em 2017, a Organização Mundial da Saúde listou a superbactéria como patógeno crítico de prioridade 1. Portanto, é fácil de entender por que a revelação deste novo antibiótico está sendo tão celebrada pela comunidade médica.
Unsplash Descoberta de substância tem chance de pôr um fim às bactérias resistentes a antibióticos. (Fonte: Unsplash)
A Acinetobacter baumannii é uma bactéria Gram-negativa, o que é o mesmo que dizer que ela está envolta em um tipo de cápsula de proteção, apresentando uma membrana interna e outra externa. A parte exterior da membrana é repleta de lipopolissacarídeos (LPS), moléculas que bloqueiam a “entrada” dos antibióticos na célula.
Os cientistas, então, descobriram que, para derrubar esta defesa, era preciso impedir que os LPS migrassem da membrana interna, onde são produzidos, para a externa. Isso porque o acúmulo das moléculas dentro da célula deixa o ambiente tão inóspito que a própria célula morre. Assim, a infecção perde força e a bactéria volta a se tornar vulnerável ao uso de medicamentos.
Foi justamente nesse contexto que a zosurabalpina trouxe resultados animadores – e já faz mais de 50 anos desde o lançamento dos últimos antibióticos capazes de tratar bactérias Gram-negativas. Até o momento, os testes foram feitos apenas em camundongos infectados (pneumonia induzida por CRAB), mas o novo antibiótico reduziu drasticamente os níveis de bactéria nos bichinhos.
Caso as investigações comprovem que o novo antibiótico é seguro para uso em humanos, isso significa que outras bactérias super-resistentes podem estar com os dias contados. Este é o caso de Pseudomonas aeruginosa e Escherichia coli, por exemplo, também Gram-negativas.
De acordo com dados divulgados pela revista The Lancet, 2019 acumulou mais de 1,2 milhão de mortes ao redor do mundo provocadas por superbactérias. Especificamente no Brasil, entre janeiro e outubro de 2021, foram registradas mais de 3,7 mil amostras de bactérias resistentes a antibióticos. O volume chama a atenção por ser o triplo do verificado antes da pandemia de covid-19.