Estilo de vida
15/02/2024 às 03:00•2 min de leitura
Em 1773, o zoólogo alemão Jae Goeze ficou surpreso ao descobrir um pequeno animal de oito patas e movimento lento ao olhar para uma amostra de água por meio de um microscópio, apelidando a criatura de "urso d'água". Três anos depois, o biólogo italiano Lazzaro Spallanzani contribuiu com seu próprio talento, chamando o animal de "tardígrado", que em italiano significa "passo lento".
Os tardígrados, como são formalmente conhecidos hoje, são umas das criaturas mais resistentes da Terra, possuindo uma quase imortalidade e meios para sobreviver a condições extremas que intrigam os cientistas há séculos. E como eles fazem isso? Para sanar essa dúvida, um novo estudo foi em busca de respostas.
(Fonte: GettyImages)
Tendo vivido na Terra durante pelo menos 600 milhões de anos, os tardígrados persistiram durante todos os cinco eventos de extinção em massa. Essas criaturas podem suportar a radiação do espaço sideral, o calor e a pressão em torno das aberturas oceânicas vulcânicas e até mesmo as temperaturas climáticas próximas do zero absoluto. Para se ter ideia, eles podem até sobreviver a tiros de uma arma a quase 3,2 mil km/h.
Agora, um novo estudo publicado na revista PLOS ONE parece ter finalmente encontrado uma resposta para como os ursos d'água conseguem realizar seus feitos de sobrevivência. Com uma ligeira mudança no nível molecular, os cientistas dizem que esses animais podem entrar em um estado de extrema dormência que preserva a vida.
Em entrevista à Science News, o químico da Universidade Marshall e coautor do estudo, Derrick Kolling, destacou que já era sabido que os tardígrados se enrolavam em uma pequena bola ao enfrentarem estressores externos — entrando num estado de hibernação profunda. Durante essa etapa, as pernas desses animais se retraem e o seu metabolismo abranda drasticamente, fazendo com que eles desidratem quase por completo. Porém, como eles entram nesse estado ainda é algo que não está claro.
(Fonte: GettyImages)
Kolling e outros pesquisadores começaram expondo os tardígrados a uma variedade de condições adversas, incluindo peróxido de hidrogênio, açúcar, sal ou temperaturas de -80 °C. Nesse processo, eles descobriram que, assim como outros animais, os ursos d'água estressados começaram a produzir radicais livres — átomos de oxigênio com um elétron extra e desemparelhado.
Os radicais livres são altamente reativos e desestabilizam outras proteínas ou segmentos de DNA à medida que procuram resolver a sua carga negativa adicionada. Os pesquisadores notaram que esses radicais livres reagiam com a cisteína, um aminoácido utilizado na produção de proteínas. E quando essa reação foi impedida, os tardígrados não conseguiram se encolher.
Porém, a hibernação não é a única maneira pela qual esses animais enfrentam tempos difíceis. Por esse motivo, os pesquisadores acreditam que mais estudos ainda precisam ser feitos para descobrir todo o arsenal de habilidades de sobrevivência desses bichos. De todo modo, a capacidade de superar todo tipo de obstáculo é o que torna os tardígrados um dos seres mais especiais do planeta.