Estilo de vida
19/09/2024 às 12:00•2 min de leituraAtualizado em 19/09/2024 às 12:00
Se o medicamento receitado por seu médico foi ineficaz contra uma bactéria resistente, talvez seja hora de procurar... um gorila. Estudos recentes têm demonstrado que certas plantas usadas por animais podem ter também os mesmos propósitos terapêuticos em seres humanos.
Esse ramo da etologia, chamado zoofarmacognosia, investiga os comportamentos de automedicação de animais não humanos, explorando o potencial das substâncias naturais de origem vegetal, animal ou mineral como remédios.
Recentemente, uma equipe de cientistas do Centro Interdisciplinar de Pesquisa Médica de Franceville, no Gabão, passou um tempo observando gorilas-das-planícies-ocidentais (Gorilla gorilla gorilla) do Parque Nacional Moukalaba-Doudou. O objetivo foi descobrir quais plantas eles estavam comendo, e pesquisar seus efeitos medicinais.
Entrevistando curandeiros e herbalistas locais, os autores identificaram quatro espécies de plantas nativas regularmente consumidas por gorilas e usadas na medicina tradicional: a árvore fromager (Ceiba pentandra), a amoreira-amarela gigante (Myrianthus arboreus), a teca africana (Milicia excelsa) e as figueiras (Ficus).
Em seguida, eles testaram amostras das cascas de cada uma das plantas para possíveis propriedades antibacterianas e antioxidantes, e pesquisaram sua composição química. As quatro plantas analisadas continham compostos que têm efeitos medicinais, diz o estudo, incluindo fenóis, alcaloides, flavonoides e proantocianidinas.
O mais surpreendente foi encontrar, nas quatro cascas, propriedades antibacterianas contra pelo menos uma cepa multirresistente da bactéria Escherichia coli, causa comum de infecções, especialmente urinárias e gastrointestinais. A árvore fromager mostrou “atividade notável” contra todas as cepas de E. coli testadas, segundo o estudo.
As propriedades excepcionais dessas plantas podem ser bastante úteis, principalmente em um cenário mundial onde a resistência antimicrobiana pode ter contribuído para 4,95 milhões de mortes em 2019, segundo um estudo da Organização Mundial de Saúde. Por isso, os autores apoiam a ideia de ficarmos de olho em nossos colegas de escala evolutiva, para obtermos novas dicas de tratamentos.
Em um comunicado de imprensa, os autores reconhecem que: "Esses resultados mostram que o extrato bruto da casca dessas plantas pode ser usado como um tratamento eficaz para doenças provocadas por radicais livres e por cepas bacterianas resistentes a antimicrobianos".
Isso faz da "farmacopeia" dos grandes primatas, a tal da zoofarmacognosia, um poderoso arsenal terapêutico a ser explorado, principalmente pela afinidade genética entre os humanos e os grandes símios, explicam os autores. E concluem: "Medicamentos e terapias alternativas oferecem esperança definitiva para a resolução de muitos problemas de saúde pública presentes e futuros".
A pesquisa com o estudo observacional foi publicada na revista PLOS ONE.