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03/10/2023 às 04:30•3 min de leitura
Atualmente, estamos tão acostumado a comprar remédios em caixinhas coloridas nas farmácias que é fácil se esquecer como eles surgiram. Mesmo que a maioria das substâncias possa ser reproduzida em laboratórios, boa parte dos princípios ativos são provenientes da fauna ou da flora.
A natureza é uma fonte surpreendente de cura e, muitas vezes, poderosos remédios são encontrados em locais improváveis, como no veneno de animais. Algumas dessas substâncias letais, quando manipuladas adequadamente, podem se transformar em medicamentos cruciais para a saúde humana. Confira alguns exemplos notáveis:
Monstro de Gila, natural dos desertos do Estados Unidos e México. (Fonte: WikimediaCommons/Reprodução)
Ozempic é um remédio para o tratamento de diabetes tipo 2, porém está sendo utilizado também para a perda de peso. Seu princípio ativo é a semiglutida, uma substância derivada de um hormônio encontrado no monstro-de-gila, um réptil venenoso. A substância é similar ao hormônio GLP-1, que humanos liberam após comer — e que é responsável pela sensação de saciedade e por controlar os índices de açúcar no sangue.
Jararaca, fonte do Captopril. (Fonte: WikimediaCommons/Reprodução)
O veneno da jararaca é temido por sua letalidade, mas nele se esconde uma enzima valiosa. Na década de 1960, cientistas estudavam o veneno da picada da jararaca e seus efeitos na pressão sanguínea. Eles conseguiram isolar um peptídeo associado à diminuição da pressão sanguínea. Com o tempo, a substância foi reproduzida em laboratório e deu origem ao medicamento Captopril, que foi a base para uma nova geração de medicamentos de controle de pressão alta e outras doenças cardiovasculares.
Calloselasma rhodostoma, comum desde a Tailândia até a Malásia. (Fonte: WikimediaCommons/Reproução)
Outro medicamento proveniente do veneno de uma cobra é o Viprinex. Neste caso, a droga é feita a partir da enzima ancrodo, uma substância presente no veneno e semelhante à trombina. O ancrodo é encontrado nas cobras Calloselasma, uma espécie de víboras comum no Sudeste Asiático.
O medicamento é anticoagulante — utilizado para desfazer coágulos e auxiliar na prevenção de tromboses, infartos e acidentes vasculares.
Sanguessugas deram longas contribuições à medicina ao longo dos anos. (Fonte: GettyImages/Reprodução)
Falando em anticoagulantes, a Desirudina e Bivalirudina são medicamentos desta categoria que foram extraídas e reproduzidas a partir das sanguessugas — utilizadas em diferentes formas de medicinas a séculos. Quando a sanguessuga morde uma presa, ela libera a hirudina, uma substância natural que impede que o sangue da vítima se coagule, assim permitindo a alimentação.
A partir desta substância surgiram alguns remédios comumente utilizados para doenças e pacientes com risco de coagulação.
Casco de um Conus magus. (Fonte: WikimediaCommons/Reprodução)
Prialt é o nome comercial do Ziconotide, um medicamento para o tratamento de dores crônicas em adultos que precisam de analgésico por injeção intratecal (injeção no espaço que rodeia a medula espinhal e o cérebro). Estes casos são raros e, portanto, o medicamento não é tão conhecido.
Mesmo assim, sua história é curiosa. A matéria-prima para o remédio provém de uma toxina mortal presente no Conus magus, um tipo de caracol. Os estudos para o seu desenvolvimento começaram nos anos 1960, mas a droga só chegou a ser comercializada nos Estados Unidos e na Europa em 2004. Ela pode ser até mil vezes mais potente do que a morfina, por isso só é usada em casos extremos onde outros medicamentos não trazem mais alivio a dor. O Ziconotide tem diversos efeitos colaterais.
Botox começou como tratamento oftalmológico, mas se popularizou pelas funções estéticas. (Fonte: GettyImages/Reprodução)
Botox é uma marca comercial da toxina botulínica, que é uma neurotoxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum. Nos anos 1970, a substância purificada começou a ser utilizada nos Estados Unidos para tratar o estrabismo. Suas propriedades de bloquear os neurotransmissores, que levam as mensagens elétricas do cérebro para os músculos, eram úteis neste caso para impedir movimentos indesejados nos olhos. Porém, um efeito colateral dos tratamentos foi a diminuição das rugas na região dos olhos e logo esta propriedade do medicamento começou a ser estudada e se tornou sua função principal.