Ciência
16/05/2024 às 08:00•2 min de leituraAtualizado em 11/07/2024 às 10:56
Em meio à vastidão árida do deserto de Atbai, no Sudão, uma descoberta intrigante nos leva de volta no tempo, a um passado verdejante e exuberante. Novas pesquisas arqueológicas revelam que o inóspito lugar, que faz parte do vasto Deserto do Saara, já foi um oásis de vida, habitado por pastores de gado e detentor de uma rica fauna africana.
Sob a liderança do professor Dr. Julien Cooper, um grupo de arqueólogos da Universidade de Macquire, na Austrália, deparou-se com cavernas que guardavam segredos escondidos no deserto escaldante.
Para a surpresa de todos, as paredes dessas cavernas estavam repletas de artes rupestres que continham informações importantes sobre o estilo de vida dos povos da região, abrindo caminho para entendermos como era a dinâmica dessas pessoas antes de migrarem em busca de recursos, sobretudo água.
A descoberta, feita pela equipe de Cooper durante o Projeto de Pesquisa Atbai, ocorreu numa região perto da cidade sudanesa de Wadi Halfa, que é uma das áreas mais desoladas e secas do Saara.
Ao todo, foram encontrados 16 novos locais de arte rupestre datados de aproximadamente 4 mil anos atrás. O que mais surpreendeu os pesquisadores foi a presença frequente de gado nas pinturas, mostrando que esse tipo de animal fazia parte da vida dos moradores da região.
Tal descoberta pode parecer, num primeiro momento, estranha, pois é difícil imaginar a presença de gado num lugar inóspito, ainda mais para um animal que precisa de água e comida em abundância.
Contudo, conforme a análise dos pesquisadores indicou, o Deserto de Atbai foi uma savana pulsante, abundante em piscinas, rios e poços de água. Era um verdadeiro paraíso para os animais, incluindo o gado, que desempenhava um papel central no dia a dia das comunidades locais.
Para compreender isso é preciso voltar um pouco no tempo, mais precisamente por volta de 15 mil anos atrás, quando a África estava passando por um período de chuvas intensas devido a variações na órbita da Terra.
Esse momento é chamado pelos especialistas de "Saara verde" ou "período úmido africano", e marca uma época em que o deserto se transformou em um paraíso verdejante.
No entanto, como todas as boas coisas, esse período também chegou ao fim. Por volta de 3000 a.C., as chuvas diminuíram, os lagos secaram, os rios desapareceram e o verde deu lugar ao amarelo duro da areia. As pessoas que dependiam da terra para sobreviver tiveram que se adaptar ou migrar.
As artes rupestre evidenciaram de forma significativa a relevância do gado para os habitantes do deserto, retratando tanto a cultura da ordenha das vacas quanto a presença de pastores e criadores de gado.
Já outros costumes, como a decoração dos chifres e a marcação da pele, sugerem uma relação de cuidado e domesticação entre os antigos pastores e seus animais. Alguns pesquisadores acreditam que essas práticas podem ter sido uma forma de expressar identidade e status dentro da comunidade.
Até do ponto de vista espiritual e ritualístico o gado tinha grande representatividade, pois há achados em cemitérios que revelaram haver pessoas que eram enterradas ao lado do seu animal, mostrando existia, de fato, uma grande ligação entre seres.
Porém, para as poucas pessoas que permaneceram na região Atbai, o gado tornou-se apenas uma lembrança distante, já que foram trocados por animais mais adaptáveis à aridez desértica, como cabras e ovelhas.