Estilo de vida
22/10/2024 às 06:00•2 min de leituraAtualizado em 22/10/2024 às 06:00
A empresa Colossal Biosciences afirmou recentemente que chegou muito perto de completar o genoma do tigre-da-tasmânia, também conhecido lobo-da-tasmânia ou tilacino (Thylacinus cynocephalus), marcando um avanço significativo na tentativa de "desextinguir" essa espécie extinta.
Usando uma amostra de mais de 110 anos preservada em etanol, os cientistas conseguiram montar mais de 99,9% do genoma desse marsupial carnívoro, que desapareceu da natureza em 1936.
Essa conquista abre portas para a possível recriação do tigre-da-tasmânia, um predador de topo cuja extinção teve impactos severos nos ecossistemas australianos. Embora o objetivo final seja trazer a espécie de volta, a comunidade científica mantém cautela e aguarda a revisão dos dados pela academia.
O tilacino era um predador essencial para o equilíbrio do ecossistema da Tasmânia, controlando espécies invasoras e ajudando a prevenir doenças, como o tumor facial do diabo-da-tasmânia. Sua reintrodução poderia restaurar o meio ambiente, o que torna a desextinção atraente. No entanto, recriar uma espécie extinta é um grande desafio.
A Colossal está combinando a tecnologia de edição genética com amostras de DNA do tilacino e de um parente vivo próximo, o dunnart-de-cauda-gorda (Sminthopsis macroura), um pequeno marsupial australiano.
O grande desafio é que, apesar dos avanços, a recriação de um animal extinto requer muito mais do que apenas a sequência genética. É necessário que o DNA seja funcionalmente inserido em células vivas que possam se desenvolver em um embrião.
Para isso, a Colossal vem trabalhando em tecnologias de reprodução assistida e dispositivos de útero artificial. Essas tecnologias já conseguiram, por exemplo, induzir a ovulação no dunnart e cultivar embriões até a metade do período de gestação, o que é um grande progresso.
Contudo, muitos especialistas ainda apontam a distância que existe entre a montagem de um genoma e a criação de um animal vivo, funcional e saudável. Há dúvidas sobre a viabilidade de criar um tigre-da-tasmânia de fato e, especialmente, sobre os desafios éticos envolvidos nesse processo.
A equipe responsável pelo projeto de desextinção do tilacino destacou que sua maior conquista foi a preservação de RNA, uma molécula instável fundamental para entender quais genes estavam ativos no animal antes de sua morte. Isso pode oferecer uma visão mais detalhada sobre o comportamento e as características físicas do tilacino, indo além do simples sequenciamento de DNA.
Outro ponto é que a reconstrução completa do genoma ajudará os cientistas a identificar as diferenças entre o tilacino e o dunnart, o que permitirá ajustar geneticamente as células-tronco do dunnart para que elas possam dar origem a um embrião de tilacino.
Apesar do entusiasmo, especialistas alertam para grandes desafios técnicos e genéticos na desextinção, tornando improvável recriar um tilacino com a tecnologia atual. Outro ponto levantado, que é comum quando o assunto é recriação genética, são as preocupações éticas sobre o sofrimento dos animais e embriões envolvidos no processo.
De qualquer modo, a Colossal permanece otimista, acreditando que seus esforços podem não só ressuscitar o tilacino, mas também ajudar na conservação de espécies ameaçadas. A empresa está em diálogo com grupos de conservação para garantir uma reintrodução responsável e sustentável dos animais recriados.
Resta agora à ciência acompanhar de perto esses desenvolvimentos e avaliar se a desextinção de fato poderá trazer benefícios ecológicos ou se é apenas uma ideia ambiciosa com grandes desafios pela frente.