Ciência
01/02/2019 às 05:02•2 min de leitura
A morfina já tem mais de 200 anos, mas até hoje ainda é um dos analgésicos mais utilizados na medicina. Derivada do ópio, a substância é usada principalmente para aliviar a dor de pacientes com dores crônicas, estágios de doença avançados ou em pós-operatórios.
Mas não pense que foi fácil descobrir a morfina. Ela entrou para a História a partir do esforço individual de um jovem bem curioso, o alemão Friedrich Wilhelm Adam Sertürner (1783 – 1841). Aprendiz de boticário, ele começou a se perguntar sobre as propriedades do ópio quando tinha cerca de 20 anos, na cidade de Einbeck.
O pai da morfina
Extraído da papoula, nome popular do Papaver Somniferum, o ópio é utilizado há milênios pela humanidade. A planta já era cultivada pelos Sumérios há 5 mil anos e há registros do uso medicinal da droga na Grécia Antiga. Na época de Sertürner, a droga era o principal analgésico utilizado pelos médicos, mas os profissionais queixavam-se dos efeitos imprevisíveis da substância, principalmente porque era difícil dosar a quantidade a ser administrada em cada caso.
Para resolver esse problema, o jovem alemão resolveu que era necessário isolar o ingrediente ativo do ópio. Assim, seria mais fácil definir a quantidade de analgésico que deveria ser ingerida por cada paciente.
A partir de 1803, o aprendiz dedicou-se à tarefa em seu tempo livre e fez uma série de experimentos com os equipamentos antigos do chefe. Eventualmente, ele conseguiu isolar um cristal meio amarelado, que na verdade era um alcaloide.
Após alguns testes com animais (e a morte de alguns cachorros), Sertürner começou a ajustar a dosagem da droga. Todos os seus experimentos foram publicados em um periódico científico em 1806. Ele nomeou sua invenção de morphium, em homenagem ao deus grego do sono, Morfeu. Alguns anos depois, na França, a substância ganhou o nome universal de morphine.
Como o jovem não era conhecido pela comunidade científica da época e era um mero aprendiz, sua descoberta passou desapercebida por alguns anos. Neste período, ele deixou o trabalho de lado, até que resolveu testar o produto em si mesmo quando acometido por uma severa dor de dente. Depois, para se garantir de que a substância poderia ser usada por humanos, ele usou algumas crianças como cobaias.
Felizmente, os testes deram certo e, com o tempo, químicos e médicos começaram a prestar atenção na descoberta. Ela começou a ser amplamente utilizada a partir de 1815. Mas não pense que a morfina não tem efeitos negativos. Além de altamente viciante, a substância pode causar enjoos e prisão de ventre. O próprio Sertürner reconheceu que a droga trazia malefícios.
Hoje, mesmo com o surgimento de outros analgésicos, a morfina ainda é uma substância controlada e amplamente utilizada. A cristalização da substância por Sertürner foi a primeira tentativa bem-sucedida de isolar um acaloide natural de uma planta e levou a diversos outros experimentos, que ajudaram a construir a indústria farmacêutica atual.