Ciência
16/10/2018 às 03:00•3 min de leitura
Não adianta negar: o pesadelo da maioria das crianças é a lição de casa. Indignados, os pequenos se perguntam sempre por que é que devem estudar ainda mais do que já estudam na escola, e ainda que esses questionamentos deem lugar à aceitação (ou quase) na adolescência e na fase adulta, a verdade é que sempre temos que rever em casa o conteúdo aprendido no colégio e, depois, na faculdade.
Isso obviamente tem a ver com aprendizado mesmo, já que o jeito de memorizar algum conteúdo é ficar cada vez mais em contato com ele. A pergunta que fica é: você sabe quando esse costume começou? Quem foi que teve a ideia de fazer com que professores garantissem que seus alunos estudassem por meio do dever de casa? Será que levar dever para casa é o método ideal de memorização e aprendizagem?
Ao que tudo indica, o culpado por fazer com que pais e alunos sofram até hoje com os deveres de casa é o educador italiano Roberto Nevilis, que, em 1095, passou a exigir que seus alunos estudassem também fora da escola, como forma de castigo por indisciplina – viu só: é possível, realmente, que a lição de casa exista como forma de punição.
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Ainda assim, não há provas de que a tática de Nevilis tenha sido realmente a pioneira nesse sentido, mas uma publicação do editor Edwark Bok, em 1900, mostrou que não é de hoje que os deveres de casa causam polêmicas – em seu texto, Bok dizia que as tarefas escolares estavam destruindo as crianças norte-americanas.
Para ele, a lição de casa roubava dos pequenos o direito de brincar e estar em movimento, alegando também que a saúde física e mental das crianças estava ameaçada, devendo os pais de cada criança decidir se ela faria ou não o dever exigido pela escola.
O texto fez tanto sucesso que acabou desencadeando um movimento contra o dever de casa, e muitas instituições proibiram a prática – em 1901, na Califórnia, foi aprovada uma leia estadual que tornava ilegal a exigência do dever de casa para crianças com menos de 15 anos.
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A coisa só voltou a ser o que era em 1957, quando os norte-americanos se sentiram ameaçados pela inteligência russa, que tinha acabado de lançar o programa Sputnik, e então os deveres de casa voltaram a ser permitidos e incentivados.
A polêmica continua, no entanto, até os dias de hoje, já que muitos pais ainda são contra a exigência dos deveres de casa. Por outro lado, há educadores que acreditam que as lições fazem com que as crianças revisem conteúdos e sejam mais responsáveis, além, é claro, de fazer com que os pais tenham mais noção a respeito dos conteúdos aprendidos pelos filhos.
Ainda assim, especialmente nos EUA, é cada vez maior o número de pais que lutam para que seus filhos não precisem fazer deveres de casa. Eles têm um argumento semelhante ao de Bok, e defendem a ideia de que as crianças precisam ter mais tempo para brincar – com essa alegação, muitos alunos já não recebem mais as tarefas escolares.
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Em março de 2015 uma escola pública de Nova York baniu de vez as tarefas escolares, pedindo para que as crianças fossem brincar ao ar livre – para a diretora Jane Hsu, a medida foi tomada porque os efeitos negativos dos deveres de casa foram comprovados – entre esses efeitos estavam a sensação que as crianças tinham de frustração e exaustão, além, é claro, da falta de tempo para realizarem atividades prazerosas.
Hsu disse também que a obrigação do dever de casa fazia com que os alunos perdessem o interesse em aprender novos conteúdos. Para sustentar sua ideia, o pesquisador Harris Cooper, que analisou 180 estudos sobre o mesmo assunto, chegou à conclusão de que simplesmente não há provas de que os deveres de casa melhore o desempenho dos estudantes.
Para a psicólogoa Erica Reischer, é realmente importante, especialmente para as crianças mais novas, ter tempo para brincar e se exercitar. “Brincar é aprender. É isso. Os pais precisam proteger esse espaço”, disse ela. De acordo com Lea Stening, pediatra, é importante incentivarmos que as crianças se movimentem mais para evitar que elas se tornem sedentárias e acabem gastando seu tempo livre com computador e televisão.
Realmente, é difícil escolher um lado: o dever de casa é, sim, capaz de fazer com que as crianças fixem melhor o conteúdo aprendido e saibam como administrar melhor o seu tempo. Por outro lado, existem pontos negativos consideráveis. Levando em conta a realidade da educação no Brasil, você, leitor, acredita que o dever de casa deve ser mantido ou suspenso? Como era a sua relação com o dever de casa quando você era estudante? Debata com a gente nos comentários!
*Publicado em 7/9/2016