Ciência
21/05/2018 às 12:30•2 min de leitura
Podemos achar que a poluição do planeta se iniciou a partir da Revolução Industrial, mas sinais deixados por nossos antepassados mostram que isso já acontece há um bom tempo. Obviamente, antes dos motores a combustão a agressão era mais branda, mas ainda assim gerou sinais que podem ser identificados até hoje.
Um dos maiores impérios da história, a Roma Antiga possuiu uma economia movimentada. Quando o governo precisava pagar algo, ordenava que moedas fossem fabricadas, e grande parte dessa produção era feita na Península Ibérica, onde os minérios de prata, chumbo e cobre eram beneficiados. Esse processo liberava chumbo no ar, que através de ventos e tempestades se deslocava para outras regiões.
Um denário de prata, moeda romana
O mais impressionante é que essa poluição viajou por mais de 4 mil quilômetros, se acumulando em núcleos de gelo na Groenlândia. Ao longo dos anos, as chuvas que caíam na região depositaram os resíduos na superfície de gelo, formando com o tempo uma infinidade de camadas com o registro do chumbo emitido pela fabricação das moedas.
Esse acúmulo de material abriu precedentes para pesquisas sobre o histórico de produção de prata pelo Império Romano. Os cientistas sabiam da existência desses rastros desde os anos 1990, mas só agora, através de novas técnicas de extração de gelo em grandes profundidades, conseguiram analisar as camadas de forma eficiente.
Gelo sendo analisado
A análise conseguiu abranger o período entre 1100 aC. e 800 dC, através da obtenção de blocos de gelo a profundidades entre 160 e 580 metros. Neles, foram identificados diversos picos de produção, assim como declínios, confirmando os fatos históricos já documentados, como guerras e pestes.
Gráfico gerado pela pesquisa
A quantidade de chumbo presente no gelo não é um indicador direto da economia, pois outros motivos podem ter levado a variações repentinas de produção. Por exemplo, Nero determinou que as moedas possuíriam somente 80% de prata, reduzindo o volume de produção do metal, fato que foi identificado pelos cientistas nas análises.
Em entrevista ao The Atlantic, cientistas revelaram que três avanços tecnológicos recentes tornaram a análise possível. Primeiro, novos modelos computacionais da atmosfera terrestre possibilitaram uma melhor estimativa da movimentação de ar na região. Outro fator importante foi a evolução na análise do material. Em 1990, esse processo era feito raspando finas camadas do gelo, mas atualmente são utilizados espectrômetros de massa de alta sensibilidade, capazes de identificar até 35 elementos de uma só vez sem destruir o bloco de gelo.
E, por último, os cientistas conseguiram relacionar de forma mais realista o que era encontrado no gelo e o ano em que o material foi depositado na neve. Através da análise de outros maciços de gelo pelo mundo, foi possível determinar todas as erupções vulcânicas que aconteceram nos últimos 2,5 mil anos. Com isso, foram definidos pontos de referência, nos quais os pesquisadores puderam se basear para formar uma linha cronológica.
Apesar da validação de vários eventos registrados historicamente, outros extremos de produção não puderam ser explicados. Isso pode se tornar fonte de pesquisa para novos estudos, expondo talvez questões que ainda não eram levadas em conta.
Como forma de curiosidade, independente do tamanho que o Império alcançou, seu pico de emissão de chumbo ainda foi 50 vezes menor do que os registros do início do século 20. Talvez as nossas emissões não tenham tempo de ser analisadas por gerações futuras.