Ciência
31/08/2018 às 08:30•4 min de leitura
A civilização egípcia é fascinante por diversos motivos. Desde as construções realizadas na época, plantações, toda a tecnologia desenvolvida e até as pinturas, tudo tem um simbolismo e um significado. Os rituais fúnebres são um grande exemplo, por isso listamos 10 fatos que você provavelmente não saiba sobre esse povo.
Somente nobres egípcios passavam pelo processo de mumificação. Isso acontecia não só pelo título, mas também pelo valor da brincadeira. De acordo com escritos de um viajante de 60-57 a.C., cerca de 30 quilos de prata eram o preço da mumificação mais cara em uma das épocas de possível inflação.
Atualmente, os custos dos suprimentos usados no processo somam cerca de R$ 15,5 mil, mas as empresas especializadas cobram cerca de US$ 70 mil (cerca de R$ 289 mil) para mumificar desde entes queridos a animais de estimação.
Entre 400 d.C. e o século XIX, aparentemente múmias eram usadas como remédios! Os europeus acreditavam que elas eram embalsamadas com betume natural, o que poderia ter efeitos medicinais, segundo a crença da época. No entanto, isso era inútil, já que os egípcios usavam resina, na verdade — o que é igualmente inefetivo.
Na Idade Média, a ideia de que corpos mumificados tinham poderes medicinais ainda era forte e, na falta de múmias, corpos desidratados de criminosos eram usados. Há indícios históricos de um processo chamado melificação, que consistia em mumificar corpos em mel para depois serem usados como medicamentos.
Além de nobres e faraós, os animais de estimação eram mumificados. Alguns, inclusive, eram criados especificamente para esse fim. Como os deuses egípcios eram representações de animais (como a deusa Bastet, que tem corpo humano e cabeça de um felino, por exemplo), fazia sentido embalsamar gatos, macacos, peixes, crocodilos e até bois como oferenda e homenagem às divindades.
Composta por muitos deuses, a prática religiosa dos egípcios é um tema à parte, e a mumificação é uma capítulo importante do processo, tanto para o aspecto espiritual quanto para o econômico, já que diversos profissionais eram envolvidos. Para eles, a morte era somente uma passagem para a próxima fase e não o fim, por isso era essencial manter o corpo intacto e ter os pertences essenciais consigo para essa nova fase.
Quando alguém morria, acreditava-se que viria o julgamento, realizado pelo deus Osíris e por 42 juízes. Anúbis, o deus da mumificação, guiaria o morto através de sua jornada, e Thoth, o deus da sabedoria, pesava a alma do falecido, que viajaria com Ra pela vida após a morte.
Como o processo de mumificação servia para preparar o corpo para o pós-vida, era importante garantir uma boa impressão. O corpo dos homens era pintado de vermelho e o das mulheres, de amarelo. Os olhos eram substituídos por pequenas cebolas, a princípio; depois, passaram a usar pedras ou vidro.
Perucas ou lã trançada direto no cabelo também fazia parte da arrumação. Já as unhas ganhavam pintura de henna, conforme evidências encontradas nas mãos do faraó Ramses I. Curiosamente, alguns tipos de maquiagem usadas pelo egípcios existem até hoje — é o caso do kajal, lápis de olho à base de carvão, muito usado no Oriente.
Antropólogos acreditam que o processo longo e elaborado de mumificação usado pelos egípcios foi inspirado pela região desértica, que naturalmente mumificava os mortos. Os corpos enterrados na areia eram preservados pelo clima seco e árido; por isso, a civilização egípcia começou a acreditar que a decomposição era algo não natural e que deveria ser evitado.
No entanto, somente depois de 800 anos a remoção de órgãos foi incorporada ao processo. Estima-se que as múmias começaram a ser enterradas em tumbas e sarcófagos há cerca de 5,5 mil anos.
A maneira como os braços da múmia eram deixados também é importante e indica o período em que o processo foi realizado. Braços cruzados sobre o peito, por exemplo, foram muito usados para a realeza. A era pré-dinástica foi marcada por múmias que cobriam o rosto com as mãos, com braços cruzados na altura dos cotovelos. Já na época do Império Médio do Egito, entre 2050 a.C. e 1710 a.C., as múmias eram enterradas com as mãos na lateral do corpo.
Durante o período de Ramsés II, os mortos tinham os braços cruzados sobre a parte inferior do corpo. Braços cruzados com as mãos nos ombros indicam um período posterior da história egípcia. Os braços cruzados eram usados apenas no Império Novo para a realeza.
No antigo Egito, as classes mais pobres não conseguiam bancar um processo de mumificação completo para seus entes queridos. A opção era apenas enrolar o corpo e fazer o processo de desidratação sem retirar os órgãos internos. Com o cérebro era considerado o menos importante, era também o último a ser retirado, o que poderia ser notado caso o nariz do cadáver estivesse intacto (sim, ele saía por ali).
Os muito pobres, por sua vez, só enrolavam o corpo do morto e o deixavam no deserto para secar. As cavidades eram então lavadas com solvente, e o enterro era feito em um cemitério. Já os nobres e ricos ganhavam o processo completo, com direito a tumbas especiais, com inscrições e pinturas do Livro dos Mortos, Textos da Pirâmide e Textos do Sarcófago.
Tudo na civilização egípcia tem uma razão e um significado, principalmente o ritual fúnebre. Com o começo da retirada dos órgãos, esse procedimento também ganhou um simbolismo: os vasos canopos, onde eram armazenados cada parte removida, representavam os quatro filhos de Hórus. Cada frasco tinha uma cabeça diferente: babuíno, chacal, humano e falcão. A posição deles na tumba também mostrava os pontos cardeais, associados às deusas Ísis, Néftis, Neit e Serket.
Pode-se dizer que esse fato é fake news. As maldições foram inventadas muito tempo depois, para evitar a ação de saqueadores de túmulos e o desrespeito aos mortos. Cientistas que avaliaram os locais e o conteúdo das tumbas já comprovaram que não há nada de perigoso.
Advertências escritas contra a abertura de tumbas egípcias datam da Idade Média e discorrem sobre as qualidades sobrenaturais das múmias. A mais famosa é a do túmulo do rei Tutancâmon, e o fato de o homem que financiou a escavação ter morrido de uma doença transmitida por mosquito incentivou o mito. Howard Carter, que descobriu o túmulo, morreu 16 anos depois.
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