Saúde/bem-estar
16/05/2022 às 02:00•2 min de leitura
Do século XVI ao XIX, os traficantes de escravos transportaram cerca de 12 milhões a 12,8 milhões de africanos através do oceano Atlântico ao longo de 400 anos, segundo o Trans-Atlantic Slave Trade Database, em um esquema que ficou conhecido como Comércio Triângulo, conectando Europa, África e as Américas.
Os historiadores estimam que entre 15% e 25% dos africanos escravizados com destino às Américas, morriam a bordo dos navios negreiros devido às condições deploráveis. Além disso, a pedido do capitão, alguns eram lançados vivos ao mar se estivessem doentes, temendo surtos que pudessem acabar com a frota.
Pelo menos 1,8 milhão de pessoas foram lançadas ao mar, e seus restos mortais repousam em algum lugar obscuro do Atlântico.
(Fonte: Shutterstock)
Em 2012, durante a construção de um novo aeroporto, arqueólogos britânicos desenterraram um cemitério de escravos com cerca de 5 mil restos mortais em Santa Helena, uma remota ilha do Atlântico Sul, a 1.600 quilômetros da costa sudoeste da África. Eles faziam parte dos navios de traficantes interceptados pela Marinha Real, em 1800, quando a Grã-Bretanha estava suprimindo a escravidão no Caribe.
Os Arquivos Nacionais da Grã-Bretanha sinalizam que, entre 1808 e 1869, a Marinha Real apreendeu mais de 1.600 navios negreiros, libertando, em média, 150 mil africanos. Eles eram frutos do comércio da Passagem do Meio, nome atribuído às rotas marítimas que configuravam a segunda etapa de uma viagem triangular realizada pelos navios europeus.
Exatamente devido a esse tipo de empreendimento, ano passado foi iniciada uma corrida para criar um memorial no fundo do mar para as vítimas do comércio de pessoas escravizadas por estudiosos que defendem que uma pequena porção do Atlântico seja reconhecida, antes que obras de mineração comecem nas águas da Bacia do Atlântico.
(Fonte: Corbis Historical/Getty Images)
Para Cindy Van Dover, professor de Oceanografia Biológica na Nicholas School, em entrevista ao Journal of Marine Policy, uma fita memorial em mapas seria o suficiente para que as empresas tenham conhecimento da importância histórica da área, considerando a possibilidade de que centenas de restos mortais e artefatos culturalmente significativos possam estar enterrados lá.
“Não estamos sugerindo de forma alguma uma proibição ou restrição à mineração, só queremos ajudar a garantir que as atividades no fundo do mar sejam sensíveis à herança cultural da Passagem do Meio”, disse Van Dover.
Aconteceram cerca de mil naufrágios no tempo em que a Passagem do Meio proporcionou o tráfego negreiro, portanto, os estudiosos têm tudo para acreditar que as obras de mineração possam encontrar restos mortais e artefatos daquela época.
“Esperamos que esta pesquisa encoraje a conversa sobre o significado cultural do fundo do Atlântico, e que esses valores culturais sejam considerados com as preocupações ambientais e os interesses econômicos associados à mineração em alto mar”, ressaltou Phillip Turner, da Seascape Consultants Ltd., doutor em Ciência Marinha e Conservação da Universidade Duke.
Como previsto na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, todas as nações que integram a Autoridade Internacional do Fundo Marinho, responsável por conceder licenças para mineração marinha, têm o dever de proteger esse tesouro histórico.