Ciência
01/10/2022 às 11:00•2 min de leitura
Estamos vivendo uma espécie de onda de narrativas true crime, que são histórias que falam sobre crimes reais e sobre a personalidade de assassinos. Recentemente, a série Dahmer – um canibal americano, da Netflix, reacendeu o gosto que muitas pessoas têm por saber os detalhes sórdidos destes acontecimentos macabros.
Mas há muita gente que também se pergunta: por que somos tão obcecados por conteúdos de true crime? Os especialistas já estão esboçando algumas respostas para isto. Confira!
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(Fonte: Revista Lado B)
Para o psicólogo forense Paul G. Mattiuzzi, narrativas true crime nos dão a oportunidade de encarar aquilo que seria um tabu fundamental nas culturas: o assassinato. Isso mexe com um tema central para todos nós, que é a luta do bem contra o mal, que existe desde sempre.
Para a psicóloga clínica Elizabeth Rutha, somos atraídos por essa tensão ainda crianças, mas somos orientados a não investigar o tema mais a fundo Por isso, o gênero true crime nos possibilitaria tentar resolver uma curiosidade fundamental: o que motiva as pessoas a cometerem este ato extremo.
“Queremos algumas dicas sobre a psicologia de um assassino, em parte para que possamos aprender como proteger nossas famílias e a nós mesmos. Mas também porque somos simplesmente fascinados por comportamentos aberrantes e os muitos caminhos que percepções distorcidas podem tomar", pontuou Rutha ao portal Mentalfloss.
(Fonte: HBO Max)
Nosso interesse pelo crime também teria a ver com a quantidade de notícias sobre este tema que nos atinge desde sempre. "Desde os anos 1950, somos bombardeados na mídia com relatos de crimes, e isso provavelmente se tornou realidade nos anos 1970. Nosso fascínio pelo crime é igualado pelo nosso medo dele", explica o psicólogo Michael Mantell.
(Fonte: Estado de Minas)
O professor de criminologia Scott Bonn explica que os atos de um serial killer podem ser horríveis de se ver, mas grande parte do público não consegue desviar o olhar porque fica fascinado pelo espetáculo.
A ideia de estarmos diante de algo muito raro (embora nem sempre isso seja verdade) explicaria esta atração. "A ideia de que o crime é inseparável da civilização – não a parte da aberração, mas um componente integral e até mesmo necessário de nossas vidas – é uma noção aceita por vários pensadores", afirma o escritor Harold Schechter.
Platão, Sigmund Freud e Émile Durkheim, dentre outros pensadores, já escreveram que os crimes só podem cumprir sua função social se os outros souberem sobre ele e se escandalizarem pelo que ocorreu.
(Fonte: Intrínseca)
Um estudo de 2010 descobriu que as mulheres eram mais atraídas do que os homens por alguns tipos específicos de histórias true crime. E havia uma razão interessante neste fascínio: elas sentiam que estavam recebendo dicas sobre como se proteger de um agressor. Os homens, por outro lado, estavam mais propensos a gostar de histórias que tinham vítimas do sexo feminino.
“Nossas descobertas de que as mulheres foram atraídas por histórias que continham informações relevantes para o condicionamento físico fazem sentido à luz da pesquisa que mostra que as mulheres temem se tornar vítimas de um crime mais do que os homens”, conclui Amanda Vicary, que participou do estudo.
Ouvir sobre crimes reais, portanto, pode ter um certo caráter pedagógico, especialmente para as mulheres. Ainda que os homens tenham quatro vezes mais chances que as mulheres de serem assassinados, as mulheres totalizam 70% das vítimas de homicídios cometidos por parceiros íntimos. Por isso, não é de se estranhar que procurem este gênero para tentar aprender alguma coisa.