Ciência
02/07/2018 às 12:00•2 min de leitura
Em algumas fases da história da humanidade e em comunidades estudadas pela antropologia, os relacionamentos sexuais ou o casamento entre pessoas que fazem parte da mesma descendência são aceitos e até mesmo encorajados. No restante do mundo, no entanto, casos de incesto são sempre um tabu, e por muito tempo se achou que crianças nascidas de parentes consanguíneos poderiam ter defeitos genéticos.
Eis que isso acabou sendo comprovado pelo evolucionista Charles Darwin, autor de "A Origem das Espécies", em sua própria experiência familiar. Ao lado da esposa, Emma Wedgwood Darwin, o cientista teve dez filhos: três morreram muito jovens; dos sete sobreviventes, três eram inférteis, e todos tinham saúde frágil.
Como pesquisador, ele sabia que havia chances de os problemas de saúde dos filhos estarem relacionados a algo que tivesse vindo de sua família ou da sua esposa — que eram as mesmas, já que Emma era sua prima de primeiro grau.
Apesar de o próprio Darwin já fazer essa conexão, diversos pesquisadores analisaram os casos anos depois e descobriram que, além dos dois, vários outros parentes antes deles haviam tido casamentos dentro das mesmas linhas genéticas, o que pode ter ocasionado a fragilidade de saúde dos filhos.
Outro famoso caso que relaciona sérias debilidades físicas ao incesto é o do faraó egípcio Tutancâmon. Para manter a pureza do sangue, os egípcios eram incentivados a se reproduzirem dentro das mesmas famílias — no caso, a real. O próprio Tut era resultado de incesto e morreu muito jovem, com menos de 20 anos, provavelmente — mas não comprovadamente — resultado de alguma de suas condições: epilepsia do lobo temporal, malária e Doença de Kohler.
Segundo o professor da Western Carolina University, estudos em diferentes grupos culturais e países mostraram nos últimos séculos que as chances de defeitos genéticos são consideravelmente maiores quando a reprodução acontece entre familiares com primeiro grau de parentesco — pais, filhos e irmãos, por exemplo.
Segundo um levantamento realizado na Tchecoslováquia, pouco mais de metade das crianças geradas por pessoas em uniões incestuosas era saudável: 42% nasciam com problemas de saúde, e 11% possuíam algum tipo de deficiência mental. Um ponto interessante sobre essa pesquisa é que ela contava com um grupo de controle único: analisava filhos das mesmas mães com pais diferentes, sendo um deles com algum grau de parentesco e o outro, sem.
Quando os filhos eram gerados com pessoas não relacionadas, apenas 7% nasceram com defeito de nascença — contra os 42% no outro grupo.
Embora a ideia de se relacionar sexualmente com familiares próximos seja repugnante por si só, esses dados genéticos apontam que não se trata apenas uma questão de moralidade ou nojinho.
O fato de que até mesmo algumas espécies de animais tenham mecanismos para evitar que se reproduzam entre si dá a entender que há alguma questão natural que nos impulsione contra esse tipo de relação. No caso dos humanos, um dos pontos mais significativos diz respeito à fertilidade.
Os casos de incesto são, por exemplo, considerados responsáveis por acabar com parte da longuíssima dinastia Habsburg. Em 1700, o rei Charles II morreu na Espanha, encerrando a linha de descendência de uma família que reinava por cerca de seis séculos na Europa — começando pela Áustria, mas fazendo alianças em outros países até chegar ao território espanhol.
No entanto, sem terem mais com quem fazer alianças, os membros da família começaram a se reproduzir entre si. Quando Charles II chegou ao poder, era infértil por conta de problemas congênitos, provavelmente derivados de dois séculos de relações consanguíneas na árvore genealógica.
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