Ciência
13/02/2018 às 03:00•4 min de leitura
A tumba do faraó menino, Tutancâmon, foi encontrada pelo explorador britânico Howard Carter em 1922 e entrou para a História como uma das descobertas arqueológicas mais extraordinárias de todos os tempos. O jovem rei foi coroado quando tinha apenas 9 anos de idade e governou o Egito entre os anos de 1332 e 1323 a.C., aproximadamente.
O reinado do jovem faraó foi interrompido pela sua morte quando ele tinha cerca de 19 anos de idade, e, até a sua magnífica tumba ser encontrada por Carter no início do século 20, a história de Tutancâmon havia sido completamente esquecida no tempo.
Lacre da câmara secreta que guardava o sarcófago de Tutancâmon
Isso porque, na época, os exploradores acreditavam que todas as sepulturas do Vale dos Reis já haviam sido descobertas (ou saqueadas). Portanto, imagine a surpresa quando a câmara mortuária de Tutancâmon foi encontrada lacrada depois de 3 mil anos!
Howard Carter começou a explorar as areias do Egito em busca de tumbas em 1891, quando tinha 17 anos de idade, e trabalhou com diversos arqueólogos ao longo dos anos. Ele participou de escavações em inúmeros sítios — incluindo Beni Hassan, Amarna, Deir el Babri, Thebes, Edfu e Abu Simbel — e estava convencido de que ainda deveria restar pelo menos uma câmara mortuária intacta para ser descoberta.
"Comitiva" presente para assistir à abertura da tumba
Então, em 1907, Carter foi contratado por um aristocrata britânico chamado Lorde Carnarvon — cheio da grana e fascinado por egiptologia — e, com o financiamento do cara, reuniu um grupo de trabalhadores e começou a cavar. Em 1914, o explorador conseguiu uma licença para escavar a área onde ele acreditava que o Rei Tut estaria, mas, para o seu azar, os trabalhos tiveram que ser interrompidos por conta da Primeira Guerra Mundial.
Carter acompanhado de Lord Carnarvon (à esquerda)
As escavações foram retomadas após o conflito, em 1918, mas Carnarvon começou a ficar impaciente com a falta de resultados de Carter e ameaçou cortar o financiamento das expedições. Foi então que, no dia 4 de novembro de 1922, um garoto que trabalhava trazendo água até o local das escavações começou a cavoucar a areia com graveto e encontrou um degrau enterrado. O tal degrau levava a uma porta lacrada — e a uma câmara secreta.
Imagem da antecâmara colorizada digitalmente
Carter entrou na antecâmara acompanhado de Carnarvon no dia 26 de novembro, e os dois se depararam com uma imensa coleção de artefatos e tesouros. Então, no dia 16 de fevereiro de 1923, Carter abriu a câmara mortuária e encontrou o sarcófago de Tutancâmon. A descoberta certamente abriu as portas para que os arqueólogos desvendassem inúmeros mistérios sobre a vida e a morte do Rei Tut. Contudo, a descoberta também teria aberto as portas para algo mais sinistro...
A notícia da descoberta da assombrosa tumba gerou manchetes mundo afora rapidamente, e não demorou até começarem a circular rumores de que havia uma maldição associada com o local. Segundo a “lenda”, qualquer um que perturbasse o descanso eterno dos faraós egípcios sofreria as consequências — e alguns historiadores acreditam que o próprio Carter teria encorajado a disseminação do boato para manter a imprensa e os curiosos longe das escavações.
Carter explorando a tumba com Lord Carnarvon
Porém... Lorde Carnarvon morreu de repente, no dia 5 de abril de 1923, ou seja, alguns dias depois de a tumba de Tut ser deslacrada — alimentando a ideia de que uma maldição havia sido liberada com a abertura da câmara funerária. Ele teria sido picado no rosto por um mosquito e, depois, cortado a área enquanto se barbeava em seu quarto de hotel no Cairo, falecendo de infecção generalizada.
George Jay Gould I e sua família
Dizem que, no momento em que Lorde Carnarvon morreu, ocorreu um apagão no Cairo. Além disso, o cachorro do aristocrata teria morrido no mesmo dia, mas no castelo do nobre na Inglaterra, depois de soltar um longo e assustador uivo. Outra suposta vítima da maldição seria o milionário norte-americano George Jay Gould I, que bateu as botas em maio de 1923, após visitar a tumba de Tutancâmon e desenvolver uma pneumonia.
Carter remexendo no interior da tumba (imagem colorizada digitalmente)
Além dele, existem rumores de que Sir Archibald Douglas Reid, o radiologista que supostamente teria feito radiografias da múmia de Tut, também morreu pouco tempo depois de ter contato com o faraó, assim como um membro da equipe de escavadores de Carter, que teria falecido devido a um envenenamento por arsênico.
Carter analisando a múmia do Rei Tut
Existe ainda mais um par de anedotas interessantes, mas uma envolve o canário que Carter tinha de estimação. A ave teria sido devorada por uma cobra no dia em que a tumba foi aberta, e não demorou até que o incidente fosse associado com a ira de deuses egípcios e a maldição dos antigos reis do Egito. A outra seria que as tumbas contariam com mensagens de alerta avisando que a morte chegaria para aqueles que invadissem esses locais.
Apesar das mortes trágicas que — coincidentemente — ocorreram após a abertura da tumba de Tutancâmon, a verdade é que, das 58 pessoas que estavam presentes no momento em que a câmara que guardava o sarcófago do faraó foi “perturbada”, somente oito faleceram nos 12 anos seguintes.
Explorando os tesouros
O próprio Howard Carter, que escavou, deslacrou, catalogou e escrutinizou tudo o que havia no local — e inclusive tirou a múmia do sarcófago com as próprias mãos —, só foi morrer 16 anos mais tarde, vítima de um câncer. Além de Carter, Richard Adamson, que fez parte do time do arqueólogo e foi responsável por guardar a tumba por nada menos que sete anos (e também cansou de ter contato com os restos mortais do faraó) faleceu em 1982, ou seja, 60 anos após a descoberta.
Carter, sem máscaras ou luvas de proteção
Sobre o suposto apagão na hora que Lord Carnarvon morreu, a verdade é que os blackouts eram pra lá de comuns no Egito nos anos 20, e depois também se descobriu que o cachorro do aristocrata nem tinha morrido no mesmo instante que ele coisa nenhuma. A respeito do canário de Carter, ele realmente tinha esse bichinho de estimação — mas, em vez de ser devorado por uma cobra, ele foi presenteado pelo arqueólogo a um amigo.
Equipe de Carter transportando os artefatos retirados da tumba
Hoje, entre as teorias mais populares sobre a explicação das (poucas) mortes que ocorreram após a tumba ser aberta é que elas podem ter sido provocadas pela presença de fungos — como o Aspergillus niger, o A. flavus e o A. ochraceus —, que podem ter permanecido no interior das câmaras funerárias e proliferado nas múmias e nos artefatos durante milhares de anos. Esses organismos podem ser perigosos para pessoas com a imunidade debilitada.
Descanso eterno perturbado
Além disso, as fatalidades foram associadas a bactérias fatais presentes nas fezes de morcegos — animais que foram encontrados aos montes na morada eterna de Tutancâmon. E, por último, de acordo com os arqueólogos, os antigos túmulos não trazem mensagens de alerta aos invasores! Assim, voltando à pergunta no título da matéria: não, a tumba do faraó não era amaldiçoada, não. Apenas repleta de microrganismos potencialmente fatais.
*Publicado em 22/7/2016