Ciência
09/10/2022 às 05:00•2 min de leitura
Talvez poucas artistas tenham uma história tão lendária quanto Josephine Baker. A cantora americana, que se naturalizou francesa, foi uma grande vedete do Teatro de Revista, ficando famosa por apelidos como Vênus Negra e Pérola Negra. Mas pasme: Baker atuou também como uma espiã durante a Segunda Guerra Mundial.
Conheça a história desta mulher corajosa que, além de ter entrado na espionagem, também foi um nome forte na luta antirracista.
(Fonte: Michael Ochs Archives/Getty Images)
Freda Josephine McDonald nasceu em 1906 em Saint Louis, no estado do Missouri, em uma família pobre. Ela foi criada apenas pela mãe e viveu em vários barracos infestados por ratos. Josephine teve pouco estudo e se casou pela primeira vez aos 13 anos.
Vítima de racismo na América, ela foi trabalhar aos 19 anos como dançarina burlesca em Paris, onde começou a fazer muito sucesso com seus trajes ínfimos, que muitas vezes envolviam só um biquíni, um colar de pérolas e uma saia feia de bananas. Ela logo se tornou uma grande estrela do jazz e, em pouco tempo, se tornaria a artista mais bem paga da Europa.
Com tanto sucesso, parece difícil imaginar que ela tenha se candidatado para participar de trabalhos de espionagem, uma vez que seria muito difícil ela viajar sem ser notada. Mas foi exatamente isso que a tornou uma boa espiã.
(Fonte: Keystone/Hulton Archive/Getty Images)
Jacques Abtey era o chefe do serviço secreto francês e, durante a Segunda Guerra Mundial, teve a tarefa de recrutar espiões para coletar informações sobre a Alemanha nazista e outras potências do Eixo. Por mais improvável que fosse, ele imaginou que a fama de Baker poderia ser seu disfarce. Assim, ela poderia seduzir diplomatas bajuladores para descobrir seus segredos.
Josephine Baker topou porque se sentia em dívida com a França, país que a adotou. "Os parisienses me deram seus corações e estou pronta para dar a eles minha vida", falou à Abtey. Depois ela também diria que uma das razões que a levou topar virar espiã foi que, em seus shows, ouviu os fascistas gritando para que ela voltasse para a África.
“É claro que eu queria fazer tudo o que pudesse para ajudar a França, meu país adotivo, mas uma consideração primordial, o que me motivava tanto quanto o patriotismo, era meu ódio violento à discriminação em alguma forma", declarou depois para a revista Ebony.
Seu trabalho envolvia participar de festas diplomáticas nas embaixadas italiana e japonesa para coletar informações sobre as potências do Eixo. Quando as tropas alemãs invadiram a França, Abtey insistiu que ela fosse embora. Josephine então carregou seus bens e partiu para um castelo, onde ela escondeu refugiados de guerra.
(Fonte: Keystone/Hulton Archive/Getty Images)
Exilados em Londres em 1940, Abtey e Baker começaram a contrabandear documentos para o general Charles de Gaulle na França. A artista escondeu fotos secretas em seu vestido e levou partituras com informações sobre os movimentos das tropas nazistas escritas em tinta invisível. Ambos foram para Portugal e para a Espanha até chegar na França com documentos.
Em 1941, eles foram parar em Marrocos, onde seguiram coletando informações. Como a cantora carregava 28 malas com roupas, além de vários animais de estimação, ela não levantou suspeitas. Josephine continuou sua empreitada de contrabando até 1941, quando ficou doente com peritonite e passou por várias operações.
Depois de ser finalmente dispensada do ofício, Baker visitou campos militares aliados até finalmente voltar a Paris em 1944, depois de quatro anos – agora não mais apenas como uma estrela famosa, mas como uma heroína da nação.