Ciência
05/01/2023 às 08:00•2 min de leitura
Escolhido há 20 anos como local do sepultamento pelo próprio Pelé, o Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos (SP), situado a 1 km de distância do estádio Vila Belmiro, se destaca como o cemitério vertical mais alto do mundo. Esse modelo, considerado uma nova tendência de necrópole, é planejado como uma forma de diminuir o efeito de poluentes, especialmente os relacionados ao processo de decomposição e à formação do necrochorume.
Construído na década de 1980 em uma área de 20 mil metros quadrados, o memorial partiu de um problema muito comum para os cemitérios da cidade de Santos: a área é enlameada por lençóis freáticos. Dessa forma, além de o prédio ocupar uma menor superfície de contato que os cemitérios convencionais, ele traz menos impactos ao meio ambiente e é estruturado para impedir a contaminação do solo por meio de um líquido agressivo para a natureza.
(Fonte: Mateus Araújo/UOL/Reprodução)
Isso porque o necrochorume é formado por sais minerais e uma série de substâncias decorrentes do desgaste natural de um corpo humano após ser enterrado. Segundo Victor Silvestre, engenheiro sanitarista ambiental e professor da Univali, esse líquido começa a se formar seis meses depois do sepultamento e reúne microorganismos capazes de render até 600 litros por quilograma. Isso significa que uma pessoa de 70 kg produz até 42 mil litros do composto nocivo.
Além de trazer riscos às águas superficiais e subterrâneas — agravados em períodos de chuva e de alta infiltração do solo —, ele favorece o excesso de matéria orgânica e de nutrientes em rios, lagos, mares e nos oceanos, resultando em uma proliferação em massa de bactérias. Assim, elas se reproduzem mais rapidamente e podem causar desastres nos ecossistemas, acarretando na morte de peixes e no aumento da comunidade de algas — ou seja, no desequilíbrio natural.
Em relação à saúde pública, o necrochorume aumenta as possibilidades do surgimento de agentes causadores de doenças. De acordo com a professora Therezinha Maria Novais de Oliveira, do curso de engenharia ambiental e sanitária da Univille, as bactérias resultantes de corpos em decomposição são tóxicas e podem causar tétano, hepatite, gangreno e outros males, bem como atrair vetores e animais que são focos de transmissão.
(Fonte: Memorial Necrópole Ecumênica/Reprodução)
Preenchido por 14 andares e por 14 mil lóculos — túmulos de cemitérios tradicionais —, o Memorial Necrópole Ecumênica possui tubos especiais que coletam o líquido da decomposição, evitando que bactérias deixem a câmara lacrada e permitindo o descarte adequado sem causar danos ao meio ambiente. Uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) determina que o necrochorume seja tratado para não contaminar o solo.
Outras vantagens do cemitério vertical incluem três modos de sepultamento (lóculos, memoriais e urnas), menos custos para as famílias e mais conforto para quem não se sente confortável com os meios tradicionais. Com isso, as pessoas que adquirem espaços na estrutura não se preocupam com a manutenção rotineira dos túmulos ou com a necessidade de visitas regulares para a realização de limpezas em maior escala.