Ciência
30/05/2024 às 20:00•3 min de leituraAtualizado em 04/06/2024 às 17:19
Os Jogos Olímpicos são, em essência, a celebração universal do espírito esportivo. Há até uma citação famosa do fundador das Olimpíadas da Era Moderna, o Barão Pierre de Coubertin, que diz que "o importante é competir".
Entretanto, nem todos os atletas demonstram esses ideais olímpicos quando chegam à maior competição esportiva do mundo. Alguns são capazes de tudo para ganhar — até trapacear.
Naturalmente, esse tipo de manobra em um evento tão visado como os Jogos Olímpicos atrai bastante atenção, tornando-se um escândalo. A seguir, nós resgatamos seis entre os maiores escândalos de trapaça das Olimpíadas modernas.
Não é à toa que a disputa dos 100 metros rasos das Olimpíadas de Seul 1988 são lembrados como "a corrida mais suja da história". O canadense Ben Johnson saiu com a medalha de ouro, mas teve que devolvê-la dias depois, porque testou positivo para esteroides. Para se defender, ele disse que o uso de anabolizantes não era trapaça se todo mundo estivesse usando.
O argumento de Johnson era surpreendente, mas não estava exatamente errado: a medalha de ouro foi para Carl Lewis, que tinha testado positivo para substâncias banidas durante o pré-olímpico daquele ano, mas não havia sido banido dos Jogos. E o terceiro colocado, que ficou com a prata após a desclassificação de Johnson, também testou positivo para pseudoefedrina — mas escapou de perder a medalha ao colocar a culpa do resultado num chá de ginseng.
A atleta estadunidense Marion Jones também teve que abrir mão de seus ouros após ser pega no antidoping. Mas no caso dela não foi apenas uma medalha, mas sim cinco! Ela havia sido a primeira mulher a ganhar tantos ouros no atletismo olímpico, entre os Jogos de Sidney (2000) e Atenas (2004).
Depois de ganhar suas cinco medalhas de ouro, Marion Jones foi perseguida por acusações de uso de esteroides por algum tempo. Até que, em 2003, ela foi finalmente indiciada em uma investigação por distribuição de substâncias ilícitas. Ela começou negando as acusações, mas confessou o uso de esteroides em 2007 — sendo obrigada a devolver as medalhas e cumprir seis meses de reclusão.
No terceiro caso dessa lista, o doping foi em grande escala: diversas nadadoras da República Democrática Alemã (Alemanha Oriental) receberam substâncias ilícitas. O pior é que isso tudo aconteceu sem o conhecimento de muitas atletas, pois era um esquema governamental.
Isso aconteceu entre os anos 1970 e 1980, quando as competições olímpicas foram dominadas por nadadoras do país — o exemplo mais notório é Montreal 1976, onde elas ganharam 10 das 13 medalhas em disputa, estabelecendo 8 recordes mundiais. As acusações eram frequentes, mas nenhuma atleta foi pega: os casos só foram revelados após a queda do Muro de Berlim.
Outro escândalo de trapaça aconteceu nas Olimpíadas de Montreal, no pentatlo moderno. O atleta da antiga União Soviética, Boris Onishchenko, era o favorito para ganhar a medalha de ouro. Mesmo assim, ele não quis jogar limpo.
Na etapa da esgrima, todas as espadas eram elétricas e programadas para registar um ponto quando o oponente era tocado. Porém, Boris escondeu um botão na sua — podendo apertá-lo para marcar pontos quando quisesse. Assim que alguns atletas britânicos desconfiaram disso e denunciaram Boris à organização, ele foi expulso das Olimpíadas.
Nos casos anteriores, os atletas se utilizaram de artifícios para ganhar competições de forma ilícita. Mas nas Olimpíadas de Londres 2012, alguns times de badmínton feminino trapacearam para perder suas partidas — dois times da Coreia do Sul, um da China e outro da Indonésia até foram expulsos dos Jogos por esse motivo.
Acontece que o campeonato de badmínton começou com uma fase de grupos e esses times, já classificados, queriam perder para enfrentar um adversário menos difícil na próxima fase. O desempenho deles foi tão ruim que os espectadores vaiaram, os organizadores perceberam e as atletas foram expulsas.
Para terminar essa lista, uma trapaça tão escandalosa que chega a ser engraçada. A maratona de 1904, em St. Louis (Estados Unidos), foi considerada extremamente difícil. Isso além do calor e da umidade, os atletas tinham que enfrentar ladeiras íngremes, trânsito e cães selvagens.
Cansado disso tudo, o atleta estadunidense Fred Lorz decidiu descansar depois de 14 km de prova. Então, Lorz pegou uma carona de carro pelos 17 km seguintes e, quando este quebrou, voltou a correr, ganhando a prova. A trapaça foi rapidamente descoberta e Lorz perdeu a sua tão sonhada medalha de ouro.
Quem ficou com ela foi um compatriota de Lorz, Thomas Hicks, que teve de parar e descansar, além de ser reanimado com estricnina, ovos crus e brandy, antes de cruzar a linha de chegada. O cubano Andarín Carvajal, quatro colocado, também parou para tirar uma soneca no meio da maratona, após comer maçãs estragadas.
É claro que vários outros escândalos de trapaça aconteceram na história centenária dos Jogos Olímpicos — mas esses seis estão entre os mais interessantes e que causaram maior debate.