Ciência
07/09/2022 às 04:00•2 min de leitura
Sally McNeil, também conhecida como 'Killer' McNeil, foi uma fisiculturista profissional norte-americana antes de se tornar uma criminosa ao assassinar com dois tiros – um na cabeça e outro no abdômen – seu marido Ray McNeil, em 19 de março de 1996.
Poderia ser mais um caso de crime passional, visto que o casal enfrentava uma crise no casamento de 7 anos com as novas aspirações profissionais de Ray e o comportamento raivoso de Sally, que a fez perder sua licença de lutadora livre ao espancar uma das amantes do marido –, se os médicos não tivessem testado o casal e encontrado uma quantidade alarmante de esteroides em seu organismo, principalmente no de Sally.
A lutadora foi considerada culpada pelo crime, apesar de ter alegado legítima defesa, e condenada a 19 anos de prisão na Califórnia, com liberdade condicional apenas em 2022. No entanto, o que fez o caso ser amplamente divulgado foi que o crime pode ter acontecido por um episódio associado à Roid Rage, uma doença provocada pela alta concentração de anabolizantes no sangue.
Sally McNeil. (Fonte: Plague of Strength)
O professor clínico de medicina associado à Universidade de Nova York, Gary Wadler, em entrevista ao WebMd, definiu a doença "Roid Rage" como uma forma de perda do controle dos impulsos, que acaba provocando reações exageradas com base em um estímulo qualquer que normalmente não produz uma reação tão grave.
“Quando alguém diz algo que você não gosta, você pode socar uma parede ou não. Ou seja, o impulso está lá, mas seria uma reação exagerada. É essa raiva precipitada pela exposição do cérebro a esteroides e anabolizantes”, explicou Wadler.
Desde a década de 1970, quando os esteroides se tornaram popular entre os fisiculturistas, que os pesquisadores têm se preocupado com o quanto a droga pode afetar o comportamento e humor de uma pessoa.
Quando testada em animais, cerca de 80% das pesquisas indicaram que a droga os deixaram extremamente agressivos. Mas demorou para que fosse declarado que o mesmo acontecia com os humanos que injetavam altas doses, causando o fenômeno 'Roid Rage'.
(Fonte: Muscle & Strength/Reprodução)
Rich Melloni, psicólogo PhD da Northeeastern University, observou que a ligação entre as variações normais no nível da testosterona e a agressão é fraca, porém há uma forte correlação quando são considerados os níveis anormalmente altos de testosterona alcançados por profissionais usuários de esteroides. Isso deixa claro que doses superfisiológicas estimulam a raiva.
Em um artigo publicado em 2000, o psiquiatra da Harvard Medical School, Harrison Pope, ressaltou que altas concentrações da droga podem aumentar a agressividade até mesmo em homens que não são fisiculturistas, mostrando também que as reações individuais podem variar drasticamente, ainda que sob condições experimentais rigidamente controladas.
Pope disse que as reações as anabolizantes não podem ser explicadas por características de personalidade pré-mórbidas ou fatores de expectativa. Ou seja, deve haver um fenômeno biológico real que ocorre em algumas pessoas que desencadeia a raiva, mas não é possível saber em quais pessoas. Ele ressalta que a maioria dos homens que tomam a droga não têm problemas, mas uma pessoa pode ter uma reação muito grave de repente.