Saúde/bem-estar
20/04/2020 às 05:00•4 min de leitura
A pandemia de covid-19 colocou muitos países em quarentena. As recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) são claras: ficar em casa o máximo possível e evitar aglomerações; essas medidas de distanciamento social estão sendo tratadas como isolamento. Mas o que exatamente é esse processo? E qual a diferença entre isolamento vertical e horizontal?
(Fonte: Getty Images)
Isolamento é uma situação na qual uma pessoa (ou um grupo) deve ficar totalmente afastada das outras, realmente sem contato com mais ninguém. Isso normalmente ocorre quando se tem uma doença que pode ser infecciosa ou comprometer demais o sistema imunológico, sendo necessário mantê-lo longe do convívio social, em casa ou, nos casos mais graves, no hospital.
Como mencionado, o isolamento também está relacionado com as medidas de distanciamento social que estamos vivendo no momento. Essas ações são adotadas quando é preciso conter a propagação de uma doença, sendo recomendado o fechamento de escolas, comércios e tudo aquilo que não for considerado atividade essencial. Além disso, incentiva-se que quem puder trabalhar remotamente adote essa forma de trabalho.
Não podemos esquecer que o distanciamento social é de extrema importância não só para cuidar da saúde da população mas também porque, ao reduzir o número de casos, evita que o sistema de saúde entre em colapso. Por esse motivo foi adotado em vários locais e está sendo essencial durante o combate à pandemia.
(Fonte: Getty Images)
No modelo vertical, apenas os grupos que apresentam mais risco de contrair a doença ou que já apresentam algum problema de saúde precisam ficar isolados. No caso da pandemia da covid-19, isso inclui idosos, pessoas com diabetes, doenças vasculares e problemas respiratórios. Então, no isolamento vertical, somente esses indivíduos deveriam ficar em casa, e os mais jovens e saudáveis poderiam continuar circulando normalmente.
Esse modelo tem sido defendido por pessoas que estão preocupadas mais com os problemas econômicos que a quarentena prolongada pode gerar do que com a saúde das pessoas.
Mas é preciso compreender que, no caso do novo coronavírus, essa medida não é vantajosa. O Sars-CoV-2 é extremamente infeccioso, e jovens podem ser vetores importantes de propagação, afinal muitas pessoas infectadas sequer chegam a apresentar os sintomas, então podem acabar contaminando outros indivíduos, inclusive aqueles do grupo de risco, o que torna desenfreada a propagação da doença e ainda sobrecarrega o sistema de saúde.
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Outro fato importante é que nem sempre é possível isolar completamente um indivíduo pertencente a um grupo de risco, de modo que ele não tenha contato com parentes e amigos que podem continuar com suas atividades. Um exemplo bem claro disso são os idosos que moram com filhos e netos: quando os familiares saem para trabalhar ou estudar, podem ser contaminados e, como consequência, contaminá-los.
Em alguns lugares, o isolamento vertical foi tentado e teve sucesso, como a Coreia do Sul, onde o diagnóstico da doença era realizado rapidamente e o paciente era isolado e monitorado, ajudando a controlar a disseminação do vírus. Mas essa não é a realidade de grande parte dos países. O Reino Unido decidiu adotar o modelo vertical no início da pandemia. No entanto, ao encarar a enorme possibilidade do colapso do sistema de saúde, acabou voltando atrás e suspendendo diversas atividades.
Por isso, para evitar um aumento desenfreado no número de casos e altos níveis de fatalidade, como observado na Itália, na Espanha e nos Estados Unidos, a recomendação da OMS é adotar o isolamento horizontal como o melhor meio de controlar a propagação do vírus responsável pela covid-19.
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No isolamento horizontal não existe uma separação de grupos: todos precisam permanecer em casa. Esse modelo diminui ao máximo o contato entre as pessoas, servindo como um grande escudo contra a disseminação da doença.
Porém, se adotado por longos períodos, ele é muito criticado por causar impactos econômicos severos. E isso não significa que vidas podem ser sacrificadas para que empresas não vão à falência ou para evitar uma possível recessão. A verdade é que uma economia desorganizada também pode levar ao aumento de mortes.
Por exemplo, se estradas forem fechadas, caminhoneiros não terão como transportar materiais importantes para hospitais. E mesmo que as rodovias permaneçam em funcionamento, se restaurantes não abrirem, os profissionais não terão como se alimentar ou descansar, o que pode afetar todo o setor de transporte.
Mas vale a pena lembrar de novo como o coronavírus é facilmente transmitido e que uma sobrecarga do sistema de saúde não atrapalharia só o tratamento da covid-19, mas de todas as outras doenças e condições graves — e ainda causaria um grande impacto econômico. E é por isso que o apelo de diversos órgãos de saúde é claro: pratique o isolamento horizontal ficando em casa e saindo o mínimo possível. Essas medidas simples podem (e vão) salvar muitas vidas.
(Fonte: André Frota/Reprodução)
Aqui no Brasil, estamos adotando o isolamento horizontal, que é a atitude mais prudente. Um dos motivos para isso é que ainda se sabe muito pouco sobre o novo coronavírus e não há remédios e vacinas testados e aprovados para combater a doença com eficácia.
Outra razão é, novamente, a proteção do sistema de saúde; e uma pandemia também acarreta impactos econômicos, afinal muitos se isolariam voluntariamente para se proteger da doença. Então, ao considerarmos tudo, faz muito sentido começar o combate à covid-19 utilizando o isolamento horizontal com todos os cuidados adequados, como não inviabilizar o transporte de suprimentos médicos e alimentícios essenciais.
Se as ações adotadas atualmente comprovarem seu sucesso, com o passar do tempo será possível, através de um acompanhamento detalhado da quantidade de casos, passarmos do modelo horizontal para o vertical.
(Fonte: Getty Images)
Ainda precisamos considerar uma questão prática muito importante: quanto tempo um brasileiro médio pode se manter financeiramente durante o isolamento horizontal? Profissionais autônomos só suportariam um longo período de afastamento caso tivessem uma boa poupança disponível, o que não é o caso de muitas pessoas, principalmente as de baixa renda.
Até quem tem vínculo empregatício fica com medo de falência da empresa ou de demissões, que podem acabar afetando suas fontes de renda. E é por isso que as medidas emergenciais do governo são de suma importância, pois servirão como uma ferramenta para que todos possam continuar praticando o isolamento horizontal, o que ajudará a proteger toda população do país.