Saúde/bem-estar
26/03/2021 às 13:00•3 min de leitura
No dia 11 de Março, o estado do Mississippi, nos EUA, aprovou uma lei que proíbe a participação de pessoas trans em esportes femininos. Em abril de 2020, o estado de Idaho chamou a atenção ao ser o primeiro a realizar uma medida semelhante. Além disso, outros estados do país, como Dakota do Sul, enviaram projetos de lei para a votação com o mesmo intuito.
Em 2016, o tema entrou em discussão após as Olimpíadas realizadas no Rio de Janeiro autorizar a participação de atletas transexuais sem necessidade de cirurgia. Na época, apenas a reposição hormonal seguia como obrigatória.
Mas o que especialistas dizem sobre o assunto? Existe alguma vantagem aos atletas transsexuais em esportes femininos?
Andrea Piacquadio/Pexels
Os projetos de lei aprovados, ou que foram para votação, enfatizam a noção de que as mulheres transgênero têm uma vantagem injusta por possuírem um maior percentual de testosterona. Esse percentual, causaria mudanças físicas, como um aumento na massa muscular.
De acordo com Katrina Karkazis, uma pesquisadora especialista em testosterona e bioética na Universidade de Yale, "os estudos dos níveis de testosterona em atletas não mostram nenhuma relação clara e consistente entre a testosterona e o desempenho atlético", destacou ela em entrevista à Scientific American.
"Às vezes, a testosterona está associada a um melhor desempenho, mas outros estudos mostram conexões fracas ou nenhuma conexão. E ainda outros mostram que a testosterona está associada a um pior desempenho", continuou.
Beth Jones, pesquisadora da Universidade de Loughborough, chegou à mesma conclusão em seu estudo um pouco antes das olimpíadas Rio 2016. ‘’Não há nenhuma pesquisa que tenha demonstrado direta e consistentemente que os transgêneros tenham uma vantagem atlética no esporte’’, afirmou em sua pesquisa.
A saúde mental é vista como primordial para a performance de esportistas. Isso se deve por eles estarem lidando, quase que constantemente, com pressões, metas e treinos de longa duração.
Para Scientific American, o pensamento de que pessoas trans possuem vantagens em relação a pessoas cis — que se identificam com seu gênero designado ao nascimento —, negligencia o fato de que as crianças transsexuais já sofrem preconceito em quase todos os âmbitos de suas vidas. Essa população sofre com taxas mais altas de bullying, ansiedade e depressão — fatores que dificultam treinar e competir.
Beth Jones também aborda essa questão em sua pesquisa, na qual mostra os benefícios da atividade física para essas pessoas. "Os transgêneros frequentemente relatam altos níveis de ansiedade e depressão em comparação com a população em geral e, portanto, podem se beneficiar significativamente da prática de esportes e atividades físicas", ressaltou.
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Quando pensamos em capacidade atlética, é importante considerar que, assim como os cisgêneros, os atletas trans possuem os mais diversos tipos de corpos. Para Beth Jones, "se o tamanho ou a força dos concorrentes for uma preocupação, podem ser desenvolvidas categorias de tamanho que sejam independentes do gênero", sugeriu.
"Equipes esportivas de gênero misto é um tema amplamente debatido por muitos anos, mas não em relação às oportunidades para pessoas trans", lamentou.
A pesquisadora também concluiu, após seu estudo, que a maior parte dessas políticas são injustamente discriminatórias contra pessoas trans, especialmente mulheres transexuais.
A American Civil Liberties Union (ACLU) luta pelos direitos dos transexuais há anos e prega que todos, independente do gênero, devem ter o direito de praticar esportes. Para a ACLU, excluir pessoas trans de qualquer espaço ou atividade traz efeitos prejudiciais ao seu bem-estar físico e emocional.
A proibição de atletas transexuais envolve tanto mulheres como homens trans, porém as últimas políticas têm afetado principalmente as mulheres trans. Sob esse aspecto, é válido dizer que elas reforçam ideias de que elas não são mulheres de verdade.
Para Joshua D. Safer, diretor executivo do Sistema de Saúde Mount Sinai, o sexo de uma pessoa é formado por múltiplas características biológicas e nem todas podem se alinhar como tipicamente masculino ou feminino em uma determinada pessoa.
"Quando uma pessoa não se identifica com o sexo que lhe foi atribuído ao nascer, ela deve ser capaz de fazer a transição social — e isso inclui a participação em esportes consistentes com sua identidade de gênero", enfatizou.