
Ciência
16/08/2021 às 04:00•2 min de leitura
De acordo com um artigo de 1884 publicado pelo Akron Law Review, um grupo de mulheres membros da Associação de Mulheres de Proteção à Saúde (LHPA) abriu um processo contra um homem chamado Michael Kane, proprietário de um depósito de esterco gigante em sua vizinhança, em Beekman Place (Nova York, EUA).
A queixa era porque Kane tinha uma pilha de esterco de 9 metros de altura que cobria 2 quarteirões da cidade. Esse seu empreendimento lhe rendia US$ 300 mil por ano e empregava 150 trabalhadores, que coletavam o estrume dos estábulos e o vendiam como fertilizante para fazendeiros fora de Nova York.
(Fonte: Ephemeral New York/Reprodução)
Em 20 de dezembro daquele ano, diante de um júri de 10 membros, as mulheres da LHPA declararam que o cheiro era muito "desagradável, assustador e simplesmente insuportável". Elas não podiam nem sequer abrir as janelas de suas casas para desfrutar do ar fresco da cidade porque temiam que o esterco representasse um perigo à saúde de seus filhos. Ao todo, elas afirmaram que o incômodo público deveria ser removido.
Ali começou a revolução do poder da LHPA no combate contra os problemas de saúde pública da cidade.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Em uma época em que era esperado das mulheres serem "apenas" governantas das próprias casas, o grupo percebeu que elas só seriam ouvidas e não consideradas “loucas, irracionais e delicadas” se trabalhassem juntas, tornando-se "governantas municipais".
A LHPA passou a olhar para as ameaças à saúde pública de sua comunidade em 1882, quando o bacteriologista alemão Robert Koch identificou o germe mais procurado do mundo: o Mycobacterium tuberculosis. Este matava uma pessoa em cada sete nos Estados Unidos (EUA) e na Europa no final do século XIX. Associando a tuberculose a uma bactéria, Koch abriu as portas para campanhas de saúde pública que visavam prevenir a disseminação do micro-organismo.
(Fonte: The Guardian/Reprodução)
Durante 6 anos, a LPHPA fez campanha por medidas de proteção com os grupos do Comitê Anti-Tuberculose do Brooklin e da Associação Nacional de Tuberculose. Em 1896, elas conseguiram erguer um decreto incomum na história: ficou proibido em Nova York todo o ato de expectoração, mais conhecido como cuspe, em local público.
A princípio, para conscientizar sobre a nova ilegalidade, foram colocadas placas ao longo da cidade para lembrar as pessoas de não cuspirem. No entanto, em 1909, um comissário de Saúde passou a instruir oficiais de Saúde a prenderem qualquer pessoa que eles vissem cuspindo nas calçadas e plataformas do metrô.
(Fonte: Bloomerang/Reprodução)
Chamado "o esquadrão sanitário", esses policiais da higiene reuniam centenas de cuspidores e os conduziam ao tribunal, onde eram sujeitos a multas de até US$ 2. No entanto, isso se mostrou ineficaz, então os grupos passaram a distribuir panfletos informativos sobre os supostos perigos da expectoração, incluindo a tuberculose.
Apesar de não evitar que as pessoas contraíssem a doença, isso pode ter ajudado a prevenir a propagação dela para outras pessoas — muitos que expectoravam pelas ruas foram presos durante a pandemia de Gripe Espanhola de 1918. A LHPA temia que os escarros cuspidos, principalmente pelos homens, grudassem na bainha dos vestidos longos e facilitassem a disseminação.
Embora houvesse contras que os médicos não faziam ideia na época, a criação e a aplicação da lei que proibiu cuspir em Nova York foi estendida para outras 150 cidades dos Estados Unidos, destacando a ameaça que a tuberculose representava.
Bem, se ela não preveniu que as pessoas fossem infectadas, ao menos estabeleceu limites para o comportamento do cidadão em público.