Quincy Fortier engravidou pacientes sem consentimento por 60 anos

10/06/2022 às 11:123 min de leitura

Em 23 de novembro de 2010, o médico Roger Abdelmassih foi condenado a 278 anos de prisão pela juíza Kenarik Boujikian Felippe, da 16ª Vara Criminal de São Paulo, por ter estuprado, cometido atentados ao pudor, atos libidinosos e manipulação genética contra 37 mulheres que eram pacientes de seu consultório especializado em reprodução humana, entre 1995 e 2008.

Com ele já encarcerado na prisão de Tremembé, no interior do estado de São Paulo, em 2016, mais 37 mulheres vieram a público alegando que também foram vítimas dos ataques pérfidos cometidos pelo médico. Fora as perseguições sexuais, elas foram vítimas de experimentos que misturavam óvulos de mulheres mais jovens no tratamento de mulheres mais velhas para obter o maior índice de gravidezes entre as pacientes, se tornando o número referência em reprodução assistida no Brasil, arrastando mulheres de todos os cantos do país com a esperança de engravidarem. Sua sede por sucesso foi tamanha, que ele chegou até a usar o próprio esperma durante as fertilizações.

No entanto, um dos crimes mais escandalosos do país não caminha sozinho, porque, aparentemente, todo o lugar tem um Abdelmassih para chamar de seu.

Meu pai verdadeiro

Quincy Fortier. (Fonte: Blog do Mauricio Araya/Reprodução)Quincy Fortier. (Fonte: Blog do Mauricio Araya/Reprodução)

A verdade surgiu por causa de Cathy Holm, ainda que ela não tenha sido a primeira vítima em meio a uma teia bizarra de crimes. Quando ela procurou o Dr. Quincy Fortier, no início de 1966, ela tinha apenas 22 anos, e ele uma sólida e respeitada carreira como médico obstetra, responsável por abrir o primeiro hospital para tratamento feminino em Las Vegas voltado para aquelas que não conseguiam ou podiam engravidar.

Naquela época, inseminação artificial foi considerada um tabu pela sociedade e governo, ainda que não fosse um procedimento proibido, apenas novo demais e antinatural. Mas a procura pelo procedimento aumentou vertiginosamente, visto que os EUA da década de 1960 enfrentavam uma média de 2.176 filhos nascidos por mil mulheres, a média nacional mais baixa já registrada, como aponta dados do Census Bureau.

Wendi Babst. (Fonte: Daily Mail/Reprodução)Wendi Babst. (Fonte: Daily Mail/Reprodução)

Parte das estatísticas e recém-casada, Holm não hesitou em procurar Fortier em seu consultório em Nevada, ao manifestar problemas de fertilidade. Cinquenta anos mais tarde, em meados de 2016, sua filha Wendi Babst, uma policial aposentada, já era uma mulher aposentada quando decidiu comprar um teste de ancestralidade, enquanto flertava com o campo da genealogia para adotar como um novo hobby e se afastar do marasmo que estava ficando sua vida sem a obrigação de um trabalho formal.

O resultado do exame mostrou a Babst que não só ela não era filha do policial que a criou e chamou de pai uma vida toda, como também tinha vários primos, mas não tios ou tias. Além disso, o nome Quincy Fortier, que ela não fazia ideia de quem era até aquele momento, aparecia com frequência.

O médico monstro

(Fonte: Culture Mix/Reprodução)(Fonte: Culture Mix/Reprodução)

A investigação pessoal feita por Babst a fez concluir que o médico obstetra de sua mãe havia a inseminado com o próprio esperma, bem como revelou uma trama sórdida de crimes semelhantes cometidos por ele.

Nascido em 1912, em Massachusetts, Fortier se interessou pela fertilidade ainda com 11 anos, quando percebeu que uma vaca na fazenda onde morava não conseguia engravidar. No fim da Segunda Guerra Mundial, ele se tornou médico e abriu o próprio hospital em Las Vegas, onde fez Cathy Holm vítima durante suas consultas.

(Fonte: Zenda/Reprodução)(Fonte: Zenda/Reprodução)

Como mostra no documentário da HBO, Complexo de Deus: os bebês do Dr. Quincy Fortier, dirigido por Hannah Olson, o médico engravidou suas pacientes com o próprio sêmen entre 1940 e 1980. Enquanto isso, ironicamente, ele faturou o prêmio Médico do Ano, em 1991, tendo seu trabalho reverenciado pelo poderio científico.

Ele praticou medicina por mais de 60 anos, falecendo aos 93 anos, em meados de 2006, antes de ter todos os seus crimes desvendados. Como resultado de tantos anos de profissão, 26 pessoas foram identificadas até hoje como seus filhos. Seu obituário, porém, lista apenas 8 filhos, sendo um deles Jonathan Stensland, que descobriu que sua mãe biológica, Connie Fortier, era enteada do médico.

Destruindo o presente                          

(Fonte: The Cinemaholic/Reprodução)(Fonte: The Cinemaholic/Reprodução)

Babst foi a responsável por trazer à luz esses meios-irmãos espalhados pelos EUA através de sua investigação incessante para saber o que aconteceu na sua concepção. Foi só por causa dela que muitos descobriram que o pai biológico era um médico criminoso. Mas isso não foi tudo.

No meio do caminho, a mulher descobriu que Fortier foi um pai que molestou os filhos que criou, além da mãe biológica de Stensland, que sofreu dos 4 até os 13 anos na mão dele. “Meu pai era doente, um pervertido”, declarou Quincy Fortier Jr., no documentário.

Connie tinha 17 anos quando descobriu estar grávida, embora não tivesse tido relação sexual com nenhum homem até o momento. Foi assim que ela entendeu que poderia ter sido abusada durante os avanços que Fortier fazia quando era pequena. Stensland nasceu, foi doado por ela e depois adotado, crescendo em um lar equilibrado e cercado de amor, longe do passado sórdido de sua concepção.

(Fonte: Women's Health Magazine/Reprodução)(Fonte: Women's Health Magazine/Reprodução)

As outras filhas adotivas do médico, Sonia e Nanette Fortier, negaram veementemente as acusações endereçadas ao pai, dizendo que nunca foram molestadas, e que ele foi um homem gentil e amável até o último dia de vida.

Enquanto isso, as vítimas de todas essa trama encararam as consequências da verdade de maneiras diferentes. No documentário, Babst confessou que descobrir sobre Fortier afetou ostensivamente seu presente. “É como uma reação em cadeia que eu realmente não posso e nem sei parar”, desabafou ela. 

Já para pessoas como Mike Otis, foi um alívio saber que o ex-marido abusivo de sua mãe não era seu progenitor, ainda que o verdadeiro tenha sido um monstro.

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