Scepan Mali: o único impostor da história que conseguiu ser rei

17/06/2023 às 13:003 min de leitura

Apesar de mais de 5 bilhões de pessoas atualmente terem acesso às redes sociais, nada impede que notícias falsas sejam espalhadas. E se ainda há quem seja ludibriado, talvez pelo excesso de meios de informação, imagina no século XVIII?

Em 1766, no Maine, uma pequena cidade do país balcânico de Montenegro, populares conheceram um homem chamado Scepan Mali, que se autodenominava médico e abriu um negócio como curandeiro popular, praticando a medicina herbal tradicional do país. Eles sempre se incomodaram com o fato de que não parecia certo que um homem estudioso terminasse como um vendedor de ervas em um lugar tão afastado do mundo.

Todo esse incômodo, no entanto, acabou quando surgiu o boato de que o homem era Pedro III, czar da Rússia e defensor dos povos eslavos. Naquela época, Montenegro estava dividido entre Veneza e o Império Otomano, e a população esperava que os russos os libertassem do domínio estrangeiro.

Essa é a história de Scepan Mali, o único impostor da história que governou uma nação.

O convite

Wikimedia CommonsScepan Mali. (Fonte: Wikimedia Commons)

Com isso, os montenegrinos imploraram para que Scepan se tornasse seu novo governante e os salvassem. O problema é que os montenegrinos não sabiam que o czar Pedro III estava morto há cerca de 30 anos, vítima de um golpe liderado por sua própria esposa, Catarina, a Grande.

Vendo a oportunidade de governar um país sem muito esforço, Scepan não deixou passar. O que ele não sabia, porém, é que impostores reais como ele são uma história antiga da Europa. Em 1318, por exemplo, John Deydras tentou assumir o controle de um castelo na Inglaterra, alegando ser o verdadeiro rei Eduardo II.

Wikimedia CommonsCzar Pedro III da Rússia. (Fonte: Wikimedia Commons)

Além disso, o fato de um czar declarado morto estar vivo poderia significar uma guerra, porque Montenegro era uma nação em busca de um líder. O país era dividido, mas seu domínio foi limitado às áreas baixas, onde nenhuma potência estrangeira jamais conseguiu penetrar.

Lá eram mantidas assembleias tribais ferozes e independentes, leais a um príncipe-bispo e divididas por uma sucessão de feudos hereditários. Com os otomanos e venezianos se infiltrando cada vez mais no país, os montenegrinos sabiam que era uma questão de tempo para que uma guerra explodisse.

Em 1766, a assembleia tribal votou formalmente para afastar o príncipe-bispo Sava, considerado um fraco governante – e o único que sabia que Pedro III estava morto –, e jurar lealdade a Scepan. Uma delegação de 60 anciões tribais partiu para o Maine, onde pediram para que Scepan se tornasse o novo Príncipe de Montenegro, mas ele recusou.

Scepan, o Pequeno

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Acredita-se que Scepan recusou por medo do quanto aquilo poderia encrencá-lo, mas, mesmo assim, insistiu que não tinha intenção em se tornar um governante figurativo. Sua condição, portanto, era que as tribos concordassem em deixar de lado suas rixas históricas e jurassem obediência absoluta a ele. As tribos se comprometeram a encerrar suas rixas e se unir contra inimigos externos.

Alguns historiadores acreditam que essa condição de Scepan foi uma tentativa desesperada de escapar daquela situação, imaginando que o instinto tribal se recusaria a chegar em um acordo – esse foi seu grande erro.

Assim começou o reinado do falso czar Pedro III, ou Scepan, o Pequeno, que reuniu um grupo de elite que executava qualquer um considerado culpado por despertar rixas ou roubar. No ano seguinte a sua coroação, Scepan já era tão temido que ninguém ousava direcionar a palavra a ele. O governante também estabeleceu o primeiro sistema judiciário de Montenegro e fez uma série de reformas bastante esclarecidas na governança do país.

O barbeiro e sua navalha

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Enquanto Scepan exercia seu novo poder adquirido, os otomanos e venezianos, perturbados com o súbito aparecimento de um governo funcional em Montenegro, formaram uma aliança e lançaram um ataque em quatro frentes ao reino do falso czar.

Veneza ficou responsável por bloquear a costa, e os otomanos se organizaram para invadir Montenegro vindos de três direções, sitiando as tribos em suas fortalezas nas montanhas. Foram 9 longos e derradeiros meses de batalha brutal, que piorou quando uma forte tempestade inundou o acampamento otomano, inutilizando sua pólvora.

Com isso, os montenegrinos lançaram um ataque ousado que capturou a maioria dos suprimentos otomanos e os forçou a recuar em desordem. Isso garantiu uma vitória triunfante, mas, infelizmente, não graças à Scepan. O impostor havia fugido assim que o exército otomano apareceu, e quando voltou depois da vitória, sua reputação e autoridade já estavam em frangalhos. Apesar disso, aquele não foi seu fim.

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Em 1769, Catarina, a Grande, enviou o príncipe Iurii Dolgorukii em uma missão ultrassecreta a Montenegro para garantir uma aliança com seu povo para a guerra iminente da Rússia com os otomanos – e também para expor Scepan como um golpista. Quando o emissário leu a carta desvendando o falso czar, os montenegrinos o prenderam e entregaram aos russos.

O problema é que, com Scepan desaparecido, as tribos retomaram suas antigas rixas, e como o emissário julgou a aliança mais importante que a morte de Scepan, decidiu libertá-lo unilateralmente e devolver seu poder. Isso foi o suficiente para que as pessoas voltassem a acreditar que ele era o falecido Pedro III.

Scepan Mali conseguiu escapar da morte até 1773, quando os otomanos subornaram um barbeiro grego para cortar sua garganta, depois que perceberam que seu poder e autoridade estavam se fortalecendo, podendo chegar a um ponto que ele seria intocável novamente.

Foi assim que terminou a carreira do único impostor real da história que conseguiu assumir o trono e governar com sucesso uma nação.

NOSSOS SITES

  • TecMundo
  • TecMundo
  • TecMundo
  • TecMundo
  • Logo Mega Curioso
  • Logo Baixaki
  • Logo Click Jogos
  • Logo TecMundo

Pesquisas anteriores: