Artes/cultura
28/11/2023 às 08:00•2 min de leitura
Os deputados italianos recentemente votaram pela proibição da carne cultivada em laboratório na Itália, o que significa que apenas dois países no mundo sigam aprovando o consumo desse tipo de produto: Estados Unidos e Singapura. A decisão, no entanto, é vista como algo bastante polêmico.
A nova legislação, liderada pelo governo de direita da primeira-ministra Giorgia Meloni, suspenderia qualquer produção, venda ou importação de carne cultivada, ou ração animal — violações resultariam em multas de até 60 mil euros. Segundo o relatório emitido pelo parlamento italiano, carnes cultivadas em laboratório geram uma "ameaça a cultura e ao modo de vida italiano".
(Fonte: GettyImages)
Desde que assumiu o poder, a direita italiana transformou os novos alimentos numa nova frente nas chamadas guerras culturais. Em declaração à televisão italiana, o ministro da Agricultura do país, Francesco Lollobrigida, alegou que a Itália está apenas tentando "salvaguardar a nossa alimentação, o nosso sistema de nutrição, mantendo a relação entre alimentação, terra e trabalho humano de que desfrutamos há milênios".
A medida em si não está em desacordo com nenhuma legislação europeia, uma vez que não existem produtos no mercado e nenhuma proposta enviada à Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) para aprovação. Porém, a decisão tomada na Itália ainda deixa uma margem para ser contestada por outros membros da União Europeia com base no acordo do "mercado único" que permite a livre circulação de bens e serviços entre os países que fazem parte do bloco econômico.
Para Lollobrigida, no entanto, isso não é motivo de preocupação, uma vez que a União Europeia "não detém o princípio de como a identidade dos povos deve ser preservada". Em comunicado oficial, a EFSA disse que a carne cultivada em laboratório ainda deverá passar por uma regulação entre membros da Comissão Europeia e por uma avaliação de segurança antes de atingir um maior espaço no mercado. Uma vez que isso acontecer, contudo, é possível que a "guerra cultural" iniciada pela Itália esquente ainda mais.
(Fonte: GettyImages)
As carnes cultivadas em laboratório já são uma realidade no mundo e tudo indica que devem chegar na mesa dos consumidores durante os próximos anos. Em junho deste ano, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) aprovou a produção e a venda de carne de frango artificial por duas empresas no país. A esperança é de que mais carnes cultivadas em laboratório sejam disponibilizadas em supermercados e restaurantes nos próximos meses.
A decisão do USDA tornou os EUA o segundo país, depois de Singapura, a legalizar o consumo desse tipo de produto — o que representa um impulso significativo ao setor. Atualmente, mais de 150 empresas atuam dentro desse segmento e receberam um investimento de US$ 896 milhões somente em 2022.
A carne cultivada, ou de cultura, consiste em pegar células de animais que normalmente produzem carne para consumo dos seres humanos e usar essas mesmas células como fonte de energia para cultivar carne fora do corpo do animal. O objetivo é que o alimento seja igual à carne tradicional, mas retirando as criaturas da equação. Enquanto ainda existe certa resistência para essa inovação, existe um forte movimento de expansão do segmento nos bastidores.