Ciência
15/05/2023 às 08:00•2 min de leitura
Criar hambúrgueres e bifes a partir de células cultivadas em laboratório tornou-se uma técnica bastante comum nos últimos anos e também tem sido visto como um grande futuro para a indústria alimentícia. No entanto, novos estudos demonstram que a produção de massa de carne artificial em laboratório pode ser consideravelmente pior para o meio ambiente do que a carne bovina real.
Atualmente, a carne à base de células animais (ACBM) é produzida apenas em uma escala pequena e com perdas econômicas. Porém, o estudo feito pela Universidade da Califórnia — que ainda não foi revisado por pares — sugere que a ampliação desse processo liberaria algo entre quatro e 25 vezes mais emissões de gases de efeito estufa (GEE) do que a indústria global de carne bovina. Entenda!
(Fonte: GettyImages)
De acordo com os autores do estudo, bilhões de dólares foram alocados especificamente para o setor da ACBM com a tese de que este produto seria mais ecológico do que a carne bovina. Entretanto, embora seja verdade que a carne cultivada em laboratório elimina os requisitos de terra, água e antibióticos da criação de gado, os pesquisadores acreditam que muito do interesse criado nesse segmento foi impulsionado por análises imprecisas de emissões de carbono.
Segundo eles, muitos relatórios lançados até hoje modelaram o impacto climático do ACBM usando tecnologias que não existem ou provavelmente nunca funcionarão. Por exemplo, um estudo frequentemente citado estimou as emissões de carbono da produção da carne laboratorial usando hidrolisado de cianobactérias como matéria-prima.
O problema, contudo, é que estudos prévios já demonstraram que esta não é uma tecnologia ou matéria-prima atualmente usada para a proliferação de células animais — e nem está perto de se tornar viável. Logo, qualquer cálculo feito com essa base estaria completamente impreciso e, portanto, equivocado.
(Fonte: GettyImages)
Um ponto importante a se ressaltar sobre a ACBM é que só é possível produzir os seus componentes por meio de um processo misturando nutrientes de grau farmacêutico, purificados a um nível mito mais alto do que o comum. Esse processo de purificação atualmente é responsável pela maior parte das emissões associadas à produção de carne laboratorial.
Sem essa etapa, não haveria remoção de endotoxinas — liberadas por bactérias no ambiente —, as quais podem impedir a proliferação de células mesmo em quantidades minúsculas. O uso de métodos de refinamento nesse segmento contribui significantemente para os custos econômicos e ambientais associados aos produtos farmacêuticos, uma vez que consomem muita energia e recursos.
Assumindo que esses mesmos processos continuarão ativos nos próximos anos, os pesquisadores estimam que cada quilo de ACBM produzirá de 246 a 1,5 mil kg de emissões de dióxido de carbono. Com base nesses números, o potencial de aquecimento global da carne cultivada é muito maior do que a da carne bovina no varejo.
Logo, por mais que esse mercado apresente algumas respostas interessantes para os potenciais problemas que poderão surgir na indústria alimentícia no futuro, ainda existem muitos outros dados que precisam ser averiguados.