Ciência
14/06/2024 às 08:00•2 min de leituraAtualizado em 14/06/2024 às 08:00
Imagine comprar um imóvel pagando mais barato do que a média, mas só poder se mudar para ele após a morte do atual proprietário, havendo o risco de não ter acesso à residência caso você morra antes do vendedor. Este é o en viager, um modelo de venda de casas comum na França.
O sistema “para toda a vida” permite comprar imóveis pagando valores até 40% abaixo do praticado no mercado, representando uma economia considerável. Essas residências pertencem a pessoas idosas e/ou viúvas, geralmente, que continuam a morar nelas até o fim de suas vidas.
Há vantagens tanto para quem vende quanto para aqueles que compram. Os vendedores têm a garantia de um lugar para morar sem depender de ninguém, recebendo o pagamento vitalício mensalmente, e podem evitar problemas relacionados à partilha de seus bens.
Já os compradores parcelam a casa própria sem dificuldade no sistema en viager e, em alguns casos, pagam um valor irrisório pelo imóvel se o proprietário morrer pouco tempo depois do negócio. Porém, também existe a possibilidade de a compra sair mais cara do que o esperado.
Nem sempre o modelo en viager é um bom negócio para o comprador. Quando tinha 90 anos, na década de 1960, Jeanne Calment vendeu seu apartamento na cidade de Arles para um homem com a metade da sua idade, usando o método, recebendo uma pensão mensal vitalícia.
Aparentemente, a negociação seria favorável para ele, considerando a idade da proprietária. Mas Calment se tornou a pessoa mais velha do mundo registrada até o momento, alcançando a idade de 122 anos e 164 dias, após morrer em agosto de 1997.
Outra curiosidade é que o comprador não teve tempo de aproveitar a residência que passaria a ser sua depois da morte da mulher mais velha do mundo. O investidor faleceu dois anos antes de Calment e sua esposa continuou pagando a parcela mensal, com o valor final chegando ao dobro do custo original do apartamento.
Para evitar fraudes, as mortes de pessoas que vendem imóveis pelo modelo en viager são investigadas, podendo levar à anulação do contrato dependendo do desfecho. Em um caso recente, a polícia francesa prendeu um comprador acusado de envenenar a dona da residência adquirida por ele, na tentativa de acelerar a transferência do imóvel.
Também existem variações do modelo para reduzir os riscos, como a versão em que o imóvel é desocupado imediatamente ao confirmar a venda, com a compensação mensal quitada normalmente, e outra com pagamento das parcelas por tempo limitado, como até 10 anos, no máximo. Nesses casos, os custos são maiores.