Artes/cultura
30/09/2015 às 11:34•4 min de leitura
Há pouco mais de um mês, a pedido dos nossos leitores, nós aqui do Mega Curioso publicamos uma matéria a respeito de uma série de soldados muito destemidos que entraram para História — e você pode conferir o artigo completo através deste link. Entre os homens que figuraram no nosso “batalhão”, mencionamos alguns militares brasileiros que atuaram bravamente durante a Segunda Guerra Mundial.
No entanto, apesar de já termos falado um pouquinho sobre esses homens, a nossa equipe sentiu que eles mereciam uma matéria só deles, que revelasse mais detalhes sobre a sua importância e participação no conflito. Portanto, a seguir você poderá descobrir um pouco mais sobre a atuação dos “pracinhas” brasileiros durante esse importante evento histórico. Confira:
A Segunda Guerra Mundial teve início em setembro de 1939, depois de forças nazistas invadirem a Polônia. Apesar de o conflito ter começado na Europa, nações de outras partes do mundo acabaram se envolvendo gradualmente — e não demorou até que as batalhas alcançassem a Ásia, a África e as Américas.
Desembarque dos brasileiros na Itália
Tudo terminou em agosto de 1945, após os EUA atacarem as cidades de Hiroshima e Nagasaki com suas bombas atômicas, mas, antes que isso acontecesse, o Brasil iniciou sua participação oficialmente em 1942 — voluntariamente.
Mais precisamente, o envolvimento aconteceu em decorrência da morte de mais de 700 pessoas — grande parte civis — quando submarinos do Eixo torpedearam seis embarcações brasileiras que trafegavam pela costa e faziam a ligação entre as regiões Sul e Sudeste com o Nordeste do nosso país.
No início, as tropas se limitavam a patrulhar o Atlântico Sul — oferecendo proteção aos navios que transportavam suprimentos para os aliados, rastreando o mar em busca de submarinos e embarcações inimigas e protegendo o vulnerável Nordeste. Além disso, os militares aproveitaram a entrada na guerra para aprender técnicas de combate e operar os armamentos norte-americanos que chegavam ao país, como caças, navios e veículos de combate.
A seleção e o treinamento de soldados brasileiros para envio ao front do Mediterrâneo aconteceram a partir de 1943, e em 1944 as primeiras tropas da Força Expedicionária Brasileira começaram a chegar à Itália. E não pense que a primeira missão consistiu em algo simples. Embora fossem inexperientes, os expedicionários tinham como tarefa desarticular a última defesa alemã em território italiano — a “Linha Gótica”.
Curiosamente, quando os primeiros soldados brasileiros desembarcaram na Itália (foram 5,8 mil na primeira leva), eles foram recebidos com vaias e xingamentos pela população — que confundiu seus uniformes com os dos militares nazistas e italianos fascistas, pensando que se tratava da chegada de um grupo de prisioneiros inimigos. No entanto, apesar da recepção desastrosa em solo italiano, depois que partiram, os expedicionários eram considerados heróis.
Os brasileiros lutaram na Itália por mais de sete meses, e as batalhas ocorreram em duas frentes, uma no rio Serchio — que resultou na libertação das cidades de Camaiore, Massarosa e Monte Prano — e a outra no rio Reno em território italiano, mais precisamente ao norte de Pistoia, que fica na região dos Apeninos. Aliás, foi a partir dessa segunda frente que os expedicionários conquistaram Monte Castelo e Montesse.
Por certo, embora muita gente desconheça — e até desdenhe — a atuação dos soldados brasileiros durante a Segunda Guerra Mundial, a verdade é que eles deixaram para trás histórias de coragem e solidariedade.
Isso porque os pracinhas compartilhavam suas rações de guerra com a sofrida população das cidadezinhas por onde passavam, distribuindo, por exemplo, latas de pêssego em calda — costume que até hoje perdura e que simboliza um gesto de amizade entre os italianos. Além disso, a participação da Força Expedicionária Brasileira, ao contrário do que muitos acreditam, foi decisiva para a vitória dos Aliados.
A verdade é que existem bem poucos registros históricos sobre a atuação dos brasileiros na guerra, e isso se deve, em parte, ao fato de as correspondências dos militares serem fortemente controlada pelo Exército Brasileiro por questões de segurança. No entanto, relatos coletados muitos anos após o fim da guerra revelaram que as experiências pracinhas foram tão traumáticas e realistas como a de qualquer outro soldado.
Nesses testemunhos, concedidos por veteranos da Força Expedicionária Brasileira, os soldados compartilharam histórias sobre o recrutamento, o processo de preparação e como era sobreviver nas trincheiras. Além disso, eles também contaram como era conviver com o medo, com a saudade da família e com a possibilidade de morrer a qualquer momento.
General alemão Otto Freter apresentando a rendição de sua tropa ao Genetal Zenóbio da Costa
Inclusive, existe a crença de que a maioria dos combatentes eram magricelas, desdentados e analfabetos — o que não passa de mito! Na realidade, a maior parte dos pracinhas enviados à Itália era das regiões Sul e Sudeste do Brasil que, na década de 40, eram as mais ricas e desenvolvidas do país.
No total, 25.445 soldados brasileiros foram enviados à Europa e, deles, 98% eram militares de carreira — sendo que 49% dos pracinhas eram civis que foram recrutados para a batalha. Além disso, ao final da guerra, tivemos o saldo de mais de 3 mil homens feridos, e o número de militares mortos somou 443.
Prisioneiros alemães sob o domínio da Força Expedicionária Brasileira