Artes/cultura
22/09/2014 às 06:55•4 min de leitura
Das rodas de truco com os amigos às mesas das cartomantes e passando pelo jogo de paciência que salvou muitas vidas do tédio antes da internet, o baralho está ali, fazendo história, aproximando pessoas, criando rivalidades e amizades. A seguir, conheça algumas curiosidades sobre baralhos:
Parece confuso, mas na verdade é bem simples. Por definição, baralho é aquele conjunto de cartas com números, seguidos do valete, da dama e do rei, e diferenciadas por quatro naipes diferentes, sendo dois pretos e dois vermelhos. É por isso que cartas de outros jogos, como as do Mico, por exemplo, com imagens diferentes, não são chamadas de baralho. Pelo menos não teoricamente...
Você já deve ter ouvido falar que jogos de tabuleiro são antigos e que, inclusive, eram bastantes populares na época do Império Romano e no Egito Antigo. É por isso que, comparando, o baralho é uma invenção relativamente nova.
Os primeiros registros históricos desse tipo de jogo são dos séculos XIII e XIV, e, diferente dos tabuleiros, com o baralho os jogadores não têm a visão completa do que está acontecendo na rodada. O baralho trouxe, portanto, a sensação de mistério junto com cada jogada. Será que é por causa do mistério que cartomantes usam as cartas para prever o futuro?
A popularidade dos jogos com baralhos tem muito a ver com a grande quantidade de jogos existentes – truco, tranca, buraco, paciência, copas, pôquer e por aí vai –, além da facilidade de transporte.
O primeiro registro de um incidente relacionado a baralho foi em 1294, na China, quando o imperador Kublai Khan julgou dois chineses que haviam sido capturados pela prática de jogos de azar. Os dois não só jogavam como também produziam baralhos, o que agravou a acusação, afinal os jogos com baralhos foram proibidos por muito, muito tempo.
As cartas chinesas, que serviram e ainda servem de modelo aos baralhos atuais eram muito menores do que as nossas, sendo que o retângulo de cada carta era de 10 cm por 2,5 cm.
Registros de baralhos coreanos datam do século XIX e, fisicamente falando, são cartas completamente diferentes daquelas que conhecemos – e, inclusive, em nada se parecem com as do baralho chinês.
Na Europa, o baralho já era conhecido desde o século XIV. Não se sabe como o continente conheceu os “jogos de azar” e, nesse sentido, há muita informação cruzada: enquanto alguns historiadores acreditam que ciganos trouxeram a tradição ao continente, há quem acredite que o baralho foi trazido por Marco Polo ou por outros descobridores. Alguns estudiosos acreditam que quem criou o baralho foi o rei francês Carlos VI, em 1392 – detalhe: nessa época, o baralho já era comum na Europa.
Na Índia, as cartas são diferentes e redondas. Além de tudo, na terra do Taj Mahal há o baralho de 120 cartas com 10 naipes diferentes! Estima-se que os indianos tenham começado a gostar dos jogos de cartas apenas no século XVI.
O Japão conheceu o baralho graças aos portugueses, que chegaram ao país com a novidade no século XVII.
As cartas do tarô foram criadas na Europa, sendo que os registros mais antigos são da cidade de Ferrara, na Itália, em 1442. Acredita-se que o baralho de tarô mais antigo, produzido em Milão, seja de 1441. O tarô tem 22 cartas a mais do que o baralho comum e, além disso, foram adicionadas imagens coloridas a cada carta.
No início, os jogos praticados com as cartas de tarô eram chamados de carte da trionfi, deixando claro que o objetivo do jogo era ganhar, triunfar. Com o passar dos anos os jogos foram se aperfeiçoando e o nome tarô, que pode ter origem do fracês, como acreditam alguns historiadores, começou a ser usado.
A verdade é que o tarô nasceu na Itália como mais um jogo, com algumas cartas extras. Em seguida, ficou popular na Suíça, no sul da França, na Alemanha e na Áustria. Nos países de língua inglesa e espanhola o tarô só foi conhecido já pela sua interpretação mística. Acredita-se que, se Inglaterra e Espanha conhecessem o jogo do tarô, ele poderia ser hoje tão ou mais popular que o pôquer.
Com o passar dos anos os desenhos usados em cada carta foram modificados de acordo com a cultura de cada região. Na Áustria, os baralhos de tarô são bem diferentes: as ilustrações fazem referência às atividades rurais da região entre os séculos XVIII e XIX.
A primeira vez em que o baralho de 32 cartas foi visto como um meio de prever o futuro foi em 1770, quando Jean-Baptiste Alliette publicou um livro que ensinava as formas de interpretar cada carta. O tarô, no entando, ainda não era conhecido em Paris.
O tarô em si foi introduzido pelo pastor protestante Antoine Court de Gébelin, que publicou nove livros sobre o assunto, entre 1773 e 1782. Ele até fala a respeito da intepretação simbólica das imagens do baralho, mas não chega a falar sobre previsões do futuro. Ainda assim, foi graças às publicações de Gébelin que Alliette, que mudou seu nome para Etteilla, passou a realizar previsões.
Etteilla foi considerado o grande cartomante de sua época. Com talento para os negócios, suas interpretações esotéricas foram ficando cada vez mais populares.
A prática de adivinhação por meio do tarô ou do baralho tradicional acabou ficando esquecida por alguns anos e perdeu a relação com o ocultismo no século XIX, quando outro francês, Alphonse-Louis Constant, conhecido popularmente como Éliphas Lévi, resolveu reativar a prática e, inclusive, o ocultismo das previsões de baralho. É graças a esse cara que ainda hoje é possível encontrar tarólogos e cartomantes.
Os países que não conheceram o tarô como jogo, como é o caso da Inglaterra, da Espanha, dos EUA e até do Brasil, apenas conhecem esse baralho pelo lado místico que ele apresenta. Nos países que conheceram o jogo em si, falar em tarô é como falar em truco. Não tem significados ocultos.
Em 1793, durante a Revolução Francesa, havia pouco papel moeda e, para resolver o problema, cartas de baralho foram utilizadas para a impressão de novas notas. Algo semelhante ocorreu no Canadá e no Suriname.
Quando o papel de cartão utilizado para fazer o baralho era de difícil acesso, os baralhos já prontos acabavam sendo utilizados em encadernação de livros e cartões de visita!
Cartas de baralho eram utilizadas também para identificar crianças deixadas em orfanatos no início do século XIX. Era comum que as mães pensassem em recuperar os filhos e, por isso, deixassem um pedaço de uma carta preso à roupa do bebê – o outro pedaço ficava com a mãe. Quando tinham melhores condições financeiras e sociais, elas retornavam aos orfanatos com o pedaço de carta, na esperança de reencontrar seus filhos.
Se hoje as embalagens de cigarro alertam para o fato de que fumar é perigoso, talvez a inspiração para esse tipo de alerta tenha surgido com base em um caso registrado em 1796, quando uma cidade ao norte da Suíça registrou a denúncia contra um grupo de fazendeiros que jogaram Jass por uma noite inteira.
A repreensão que eles sofreram foi grande e, a partir daquele momento, o Conselho da Cidade recomendou que os moradores da região evitassem abusar dos jogos. Um fabricante local passou a imprimir caixas de baralho com a frase “Ad usum, non abusum”, que significa “para usar, sem abusar”.
E aí, você já sabia tudo isso sobre o assunto? Se tiver alguma história bacana envolvendo algum tipo de jogatina, conte para a gente nos comentários!